Maior doador individual da campanha eleitoral em 2018, Rubens Ometto Silveira Mello, fundador e dono do grupo Cosan, declarou na segunda-feira, 8, seu voto ao candidato Jair Bolsonaro (PSL). O empresário, que desembolsou cerca de R$ 6,8 milhões para mais de 50 parlamentares de diversas siglas, sobretudo o PSDB, apoiou no primeiro turno o ex-governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, que ficou em quarto lugar na corrida presidencial. Com bom trânsito em Brasília, Ometto foi um dos entusiastas do governo Michel Temer (MDB) e manteve bom diálogo com a ex-presidente Dilma Rousseff na primeira gestão.

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O que o resultado das eleições do primeiro turno mostrou?

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Mostrou que o eleitor está querendo mudanças, não quer continuar com o mesmismo de antes e busca uma política mais de direita.

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Em quem o sr. vai votar no segundo turno?

Vou votar no (Jair) Bolsonaro, do PSL, porque eu não vejo como é possível eleger a esquerda depois de tudo que esse País passou. Depois do final do primeiro mandato do Lula, o Brasil foi andando devagarzinho para o brejo. Está na hora de dar uma chance para o outro lado. A esquerda teve a sua chance: avançou em algumas coisas e errou demais em outras, como na economia e corrupção. Vamos tentar com o governo de centro-direita e ver se ele rompe com as verdades estabelecidas do Brasil, o estatismo, a burocracia, a dificuldade de fazer negócios.

Quais devem ser as prioridades do presidente eleito?

A prioridade zero tem de ser a reforma da Previdência, sem a qual o País vai ficar insolvente no médio prazo. Sem um Estado solvente, pode esquecer a saúde, a educação e a segurança. Olhando a coisa do ponto de vista empresarial, óbvio que precisamos da reforma tributária e de uma simplificação da burocracia.

O resultado das urnas mostrou uma polarização. O sr. acha que o PT tem chances de vencer

Acho difícil. Foi esse o recado que a gente teve neste primeiro turno.

Por que o PT perdeu espaço?

Fez tudo errado. Desde a má gestão até intervenção da economia, da corrupção, pedalada fiscal…

Quem vencer a eleição terá forças para colocar as reformas em prática com apoio do Congresso?

Acredito que, principalmente, no curto prazo terá sim (apoio do Congresso). As reformas têm de ser feitas nos próximos 12 meses. Vai haver ambiente político. Não tem outro jeito. O País está quase ingovernável do ponto de vista do orçamento. No primeiro turno, eu votei no Geraldo Alckmin. Considero que ele tinha as melhores condições para fazer as reformas porque é um homem sério, experiente e saberia fazer as alianças que o próximo presidente precisa ter no Congresso. Agora, os tucanos estão sempre em cima do muro, não se entendem entre eles e precisam se reinventar. É triste, mas é verdade.

Onde o PSDB errou?

Acredito que houve erro de campanha e direcionamento. Acho que tem uma desunião interna no PSDB.

Por que isso ocorreu?

Não sei… Acho que as lideranças foram ficando mais velhas. Precisa renovar.

O PSDB terá força para se reinventar?

Não sei dizer.

Partidos menores hoje podem virar uma nova liderança?

Podem. Acho que, em termos de ideias, o próprio (Partido) Novo tem pessoas com propostas diferentes que vão crescer ao longo do tempo.

Nos últimos meses, o sr. se reuniu com os principais candidatos e suas equipes. Conheceu todos eles? Acredita que Bolsonaro e Paulo Guedes (apontado como futuro ministro da Economia) podem conduzir bem a economia?

Não conversei com todos, mas com vários. Em relação ao Bolsonaro, ele sempre foi muito humilde. O que ele não sabe, vai apoiar quem sabe. O Paulo Guedes é uma pessoa preparada. Se vai ter casamento ou não (entre o economista e o candidato do PSL), é de menor relevância. Há ótimos economistas dispostos a ajudar nosso País. Não estive pessoalmente com Paulo Guedes, mas conheço bem o que ele pensa. Bolsonaro não precisa ser um expert. Mesmo porque se você é expert em tudo, tenta influenciar. É o caso aqui na Cosan (sócia da segunda maior distribuidora de combustíveis e da ferrovia Rumo). Você acha que eu também posso ser um maquinista?

Qual deve ser o papel dos empresários?

O empresariado tem de conversar mais sobre política e ter mais interlocução com Brasília. No governo Dilma, muita gente falava, mas ela se recusava a ouvir. Deu no que deu. O empresariado tem um senso prático, não é um ser ideológico. Os empresários estão associados a uma imagem de aproveitador, gananciosos, sobretudo pela esquerda. Temos de mostrar que a história das sociedades que funcionam é outra: se a empresa vai bem, gera empregos. Se vai mal, vira uma Venezuela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.