A escolha de um novo presidente para o País, cujos desdobramentos provocaram uma verdadeira montanha-russa no mercado financeiro, afetou a estratégia da maioria dos investidores brasileiros. Segundo pesquisa da gestora de recursos americana Legg Mason, para 83% dos investidores, a eleição teve influência moderada (51%) ou alta (32%) em suas aplicações. Apenas 10% afirmaram que o evento teve pouco impacto e 7% não mudaram sua alocação de recursos.
As mudanças norteadas pelas eleições foram muito mais defensivas do que agressivas – ou seja, mais focadas em minimizar perdas do que em turbinar ganhos.
“Foi uma eleição muito polarizada e com elementos novos, como a agregação de mídias sociais”, observa Roberto Teperman, diretor de vendas da Legg Mason. “Com tamanha volatilidade, vimos muitos investidores e gestores diminuindo exposição em Bolsa ou migrando para ações com proteção em dólar.”
Além do mercado acionário, a cautela também pôde ser observada na renda fixa – como investidores que optaram por títulos atrelados à Selic em vez de papéis prefixados. “Não se sabe o que pode acontecer. Com todo esse risco, muita gente quer ‘dormir’ no pós-fixado”, observa Willian Eid, professor da FGV.
A pesquisa ouviu mil investidores entre 26 de julho e 24 de agosto. Os entrevistados estão comprometidos a investir pelo menos R$ 50 mil nos próximos 12 meses – e também fizeram modificações em suas aplicações nos últimos cinco anos. A Legg Mason gerencia mais de US$ 750 bilhões em ativos em 17 países. No Brasil, também está presente por meio da subsidiária Western Asset, que administra R$ 42 bilhões.
Incertezas
Na corrida eleitoral mais incerta desde a redemocratização, as cotações da Bolsa e do dólar oscilavam a cada mudança de cenário sinalizado pelas pesquisas de intenção de voto – sobretudo nesta reta final.
Especialistas lembram que foi a primeira vez que mercado foi forçado a mudar de candidato: como a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) não emplacou, Jair Bolsonaro (PSL) passou a ser a aposta do mercado, por ter uma agenda econômica mais liberal e menos intervencionista que Fernando Haddad (PT), agora seu oponente no segundo turno. A liderança de Bolsonaro na corrida presidencial deu um novo fôlego à Bolsa, que subiu quase 9% só em outubro – puxada sobretudo pelo “kit eleição”, formado por ações de empresas estatais.
“Alguém pode até ter pegado essa alta de outubro, mas com certeza foram poucos, pois é difícil acertar em cheio”, observa Teperman. “O mercado andou e agora a maioria só recuperou parte da perda do ano – tanto que poucas casas (de investimentos) estão positivas. Muitas estão no zero a zero.”
Além da definição do próximo presidente, os investidores brasileiros também estão preocupados com as medidas que serão tomadas pela próxima gestão.
Ainda segundo a pesquisa da Legg Mason, as maiores preocupações dos investidores propensas a influenciar suas aplicações e seu patrimônio estão relacionadas a incertezas quanto à política econômica do novo governo (62%); insegurança jurídica (39%); oposição à reforma tributária (38%); oposição à reforma política (38%); ação mais intervencionista (36%); populismo (30%) e oposição à reforma da Previdência (29%). Cada entrevistado pôde escolher mais de uma resposta.
Eid aponta que, mesmo o candidato do mercado seja vitorioso, ainda há muitas questões em jogo que podem influenciar o mercado – e, por sua vez, as estratégias de investimento. “Mesmo se ele ganhar, com um programa razoavelmente ortodoxo de contenção fiscal, ainda há muitas incertezas – se o (assessor econômico de Bolsonaro) Paulo Guedes vai pegar seu chapéu e ir embora, se o Congresso vai passar as reformas ou não”, diz. “Por isso digo: a Bolsa é e tem de ser um investimento de longo prazo. Ponto.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.