Eleição do BID, hoje, não tem um favorito

Ainda não há nenhum candidato com maioria na disputa para a presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), cuja eleição ocorre hoje. A avaliação é do ex-diretor do Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional), o argentino Claudio Loser, que acompanha o processo como observador. A diplomacia brasileira aposta meses de trabalho em João Sayad, atual vice-presidente da instituição. ?Nenhum candidato possui uma maioria forte. Sayad certamente não tem. Ele não é um candidato com apelo tão forte quanto se imagina, ainda que seja atualmente um vice-presidente do banco?, afirmou.

O apoio da Argentina à candidatura brasileira, concedido formalmente na sexta-feira passada, pode modificar o cenário, levando os Estados Unidos a transferir para o Brasil o suporte dado atualmente para o embaixador da Colômbia em Washington, Luis Alberto Moreno, em uma mudança de última hora.

?Estou certo de que os Estados Unidos diriam OK, se o México e a Argentina apoiarem o Sayad. Ouvi coisas boas a respeito dele, mas ele não é alguém conhecido nos círculos políticos da América Latina. Para resumir, em um segundo turno, os EUA devem apoiar Sayad nesse cenário.?

Segundo Loser, a ausência de reputação de Sayad no continente é um dos fatores responsáveis pelo apoio dado pelos EUA ao colombiano. ?Os EUA estão aparentemente apoiando Moreno. E a impressão que tenho é que a candidatura Sayad é a razão para esse apoio, porque é também na América do Sul que Sayad não possui tanto reconhecimento.?

Contabilizados os discursos oficiais e a negociação silenciosa que ocorre em Washington às vésperas do pleito, Sayad estaria, então, virtualmente eleito. O que não impede Loser de elogiar Pedro Paulo Kuczynski, ministro das Finanças do Peru, como o candidato mais bem preparado para chefiar o BID. ?Diria que Kuczynski é o candidato com as melhores credenciais. Ele tem sido ministro por muito tempo, é muito respeitado. Moreno é um bom diplomata, é muito conhecido, mas não possui perfil para o cargo.?

Além do Peru, Brasil e Colômbia, também indicaram candidatos a Nicarágua, com seu presidente do Banco Central, Mario Alonso, e a Venezuela, com José Alejandro Rojas. O vencedor da eleição substituirá Enrique Iglesias, que deixa a função no sábado, após 17 anos no cargo.

O Brasil é o maior tomador de empréstimos do banco e o segundo em participação acionária, junto com a Argentina. Uma participação que não deve ser desprezada, pois se traduz no total de votos de cada país. Os três maiores acionistas EUA (30%), Brasil (10,7%) e Argentina (10,7%) decidem a disputa sozinhos.

Venezuela

O curinga da eleição até agora tem sido Rojas, indicado por Hugo Chávez, cuja inscrição foi registrada horas antes do prazo final. Para Loser, Rojas pode obter alguns votos de países caribenhos em um primeiro turno, mas ao perceber que não há chances de vencer, abandonará a disputa declarando apoio ao brasileiro.

?A questão é que Rojas pode conseguir alguns votos no Caribe, principalmente nos locais onde Chávez tem investido, mas não é um candidato que terá reconhecimento?, disse Loser.

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