A pretensão da Eldorado Brasil de ser uma das maiores fabricantes de celulose do mundo tem como pano de fundo o momento difícil pelo qual passam as principais fabricantes do insumo no País.

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Com um projeto de erguer três fábricas de celulose (a primeira já entra em operação este ano) em menos de dez anos e alcançar capacidade instalada de até 5 milhões de toneladas anuais em 2020-2021, a Eldorado quer se beneficiar das complicações que podem envolver os projetos de concorrentes como Fibria e Suzano Papel e Celulose para ganhar espaço no mercado.

O Brasil fabrica cerca de 14 milhões de toneladas anuais de celulose e deverá alcançar produção de mais de 20 milhões de toneladas até o fim da década. A primeira unidade de celulose da Eldorado, em construção no município de Três Lagoas (MS) e início de operação previsto para novembro, já se beneficia do momento adverso das concorrentes. Pressionadas pela elevação do endividamento e pela retração da demanda mundial por celulose entre o fim de 2008 e o começo de 2009 e, depois, no segundo semestre de 2011, Fibria e Suzano enfrentam dificuldades para definir o cronograma de seus projetos.

A Suzano já postergou o início previsto das fábricas a serem construídas no Maranhão e no Piauí, e a Fibria ainda não definiu os primeiros passos de expansão desde sua criação, em setembro de 2009. Por conta disso, a fábrica da Eldorado chegou ao mercado em um momento de escassez de novas capacidades. A mais recente fábrica de celulose construída no Brasil entrou em operação em março de 2009, também em Três Lagoas.

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O projeto idealizado pela Votorantim Celulose e Papel (VCP) é um dos principais ativos da Fibria, empresa resultante do processo de união entre VCP e Aracruz. O próximo projeto brasileiro a entrar em operação após a fábrica da Eldorado deve ser a unidade da Suzano no Maranhão, com produção prevista para o fim do próximo ano.

Antes disso, ainda no primeiro semestre de 2013, deve entrar em operação a unidade de celulose da sueco-finlandesa Stora Enso e da chilena Arauco, construída no Uruguai. Entre 2014 e 2020 também estão previstos outros projetos que, entretanto, podem ter o cronograma postergado, conforme análises de técnicos da Eldorado.

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Nesse cenário, a Eldorado surge como uma empresa capaz de crescer, destaca o novo presidente José Carlos Grubisich. “A Eldorado, por sua estrutura de capital sólida, por nascer com um balanço limpo e adequado e por não ter o peso de uma dívida alta, poderá utilizar sua capacidade de geração de caixa para financiar os programas de crescimento”, disse o executivo, sem citar, contudo, a Fibria e a Suzano.

Grubisich, que estava na ETH, assumiu a empresa há poucos dias com a missão inicial de definir contratos de venda relacionados à primeira fábrica da empresa. O projeto, avaliado em R$ 6,2 bilhões, prevê a construção de uma linha de produção com capacidade anual de 1,5 milhão de toneladas de celulose de eucalipto.

Aproximadamente 60% do montante já foi investido no projeto, que prevê também a construção de um porto na encosta do rio Paraná ao lado da fábrica e de um terminal em Santos, além da compra de locomotivas e vagões para transportar a celulose até a cidade do litoral paulista e da formação da base florestal.

O terminal será próprio para a exportação de celulose, mas o executivo não revelou detalhes de como será estruturado o projeto. “Nossa visão é de criar um novo líder no mercado global de celulose de eucalipto”, enfatizou Grubisich. A maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo é a Fibria, com capacidade instalada de 5,2 milhões de toneladas de celulose.

A estrutura societária da Eldorado Brasil, empresa que no fim do ano passado incorporou a Florestal Brasil, com atuação no segmento de terras e plantações, é composta por J&F Holding, MJ Empreendimentos e pelo Fundo de Investimento em Participações (FIP) Florestal. A J&F Holding, da família Batista, controladora do JBS, detém participação direta ou via FIP de 58,4%. O FIP Florestal, que tem entre seus cotistas a Petros e a Funcef, possui 33,1% de participação e a MJ Empreendimentos, do empresário Mario Celso Lopes, detém outros 16,7%.