O Brasil precisa avançar e não tentar voltar a estratégias de política econômica que deram certo no passado, afirma o economista Mohamed El-Erian, ex-presidente da gestora Pimco. “A tentação de voltar ao jeito antigo de fazer as coisas é enorme. O Brasil é um perfeito exemplo de querer voltar ao invés de avançar”, disse ele.

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“O Brasil reagiu ao declínio das taxas de crescimento voltando ao modelo antigo, de usar o banco de desenvolvimento como o principal financiador do investimento”, disse El-Erian em uma palestra. “Ao invés de buscar a próxima rodada de adaptação da política econômica, há uma tentação (do Brasil e outros emergentes) de voltar ao que funcionou no passado”, completou.

El-Erian, que também é conselheiro do presidente Barack Obama, afirmou, em uma rápida avaliação das eleições brasileiras, que a vitória de Dilma Rousseff revela que o elemento social é um ponto importante da política econômica para ser avaliado. Ele destacou que a desigualdade social aumentou em vários países do mundo e os governos precisam buscar uma expansão da atividade mais inclusiva. “Há uma reação social não apenas ao baixo crescimento, mas também ao crescimento que favorece só os ricos.”

El-Erian fez uma palestra nessa semana no Peterson Institute for International Economics, um centro de pesquisas e estudos econômicos com sede em Washington para falar de perspectivas para os Brics (sigla para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “Há uma tendência recente dos Brics de querer voltar aos maus hábitos do passado”, afirmou, destacando que algumas estratégias que deram certo em algum momento podem não mais ser aplicáveis hoje.

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“É extremamente difícil navegar no atual ambiente macroeconômico da economia global. Há muito poucos faróis para guiar os emergentes”, afirmou El-Erian, destacando que os bancos centrais de países desenvolvidos estão em movimentos divergentes. “A economia global não fornece os guias que costumava mostrar.” Ao mesmo tempo, o crescimento decepcionantes do Produto Interno Bruto (PIB) mundial não pode perder o motor de expansão que representa os países dos Brics.

O economista preferiu fazer uma análise mais geral dos países dos Brics e falou pouco da economia de cada um. “Os Brics têm muito pouco em comum. Não possuem uma cultura comum, nem a língua, nem a política”, disse logo no início de sua apresentação, ressaltando que, mesmo assim, este grupo de países está conseguindo alcançar conquistas importantes, como a criação de um banco de desenvolvimento e acordos bilaterais de pagamentos em operações que não passam pelo dólar.

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Ainda na apresentação, El-Erian destacou que havia no passado recente uma grande expectativa sobre os Brics e a capacidade de mudança de cada país. A rapidez com que os países reagiram à crise de 2008 animou ainda mais os analistas estrangeiros e estes mercados passaram a puxar a expansão da economia mundial, destacou o economista. Atualmente, a rapidez e a capacidade de resistência dos Brics se reduziu e surgem preocupações.

Estes países, de acordo com El-Erian, tomaram uma série de medidas macroprudenciais nos últimos anos para se protegerem do cenário externo menos favorável, mas ainda paira um senso de que eles não são totalmente capazes de se protegerem das reviravoltas dos fluxos internacionais de capital.