Os impactos do tabelamento do frete rodoviário sobre a economia são grandes e vão muito além dos números, afirmou nesta quarta-feira, 2, o consultor Cláudio Frischtak, da consultoria Inter.B, durante o seminário Frete sem Tabela, Brasil com Futuro, promovido por oito entidades do setor produtivo. “Os custos econômicos estão subestimados”, afirmou. “Eles vão além do mensurável, porque é afetada a confiança do produtor e o capital social é destruído.”
Ele comentou que os estudos sobre economia comportamental, área que levou recentemente um prêmio Nobel de Economia, apontam para a importância da psicologia dos produtores. “O dano, nesse caso, é permanente”, disse. “Teremos danos permanentes na cabeça das pessoas.”
Para o consultor, a má condição da infraestrutura brasileira está na raiz da paralisação. Os investimentos dependerão do capital privado, dadas as restrições fiscais do governo. Mas tabelamento, disse, trouxe insegurança jurídica e afetou a confiança dos agentes econômicos. “O tabelamento vai contra os requisitos básicos da recuperação dos investimentos”, afirmou. Hoje esse volume corresponde a 15% do PIB e é baixo. Para sustentar um crescimento da ordem de 3% seriam necessários 22%.
O uso da ANTT para definir a tabela do frete “sem base técnica” elevou o risco regulatório do País, afirmou. Ele está próximo dos 200 pontos, quando o razoável seria de 35 pontos a 40 pontos.
“O tabelamento tem o efeito de um novo tributo”, avaliou. Mas um tributo ineficaz, pois é transferido diretamente a um grupo de interesse. E até mesmo esse grupo, o dos caminhoneiros, pode ser prejudicado. Entre outras razões, porque a tabela pode congelar uma situação de mercado que não era favorável a eles, que reclamavam dos preços baixos pagos pelo serviço.
Segundo Frischtak, o pacote do governo para os caminhoneiros “ignora as causas e agrava as consequências” do cenário que levou à paralisação. Não ataca as causas, porque não ataca a falta de investimento em infraestrutura. E agrava as consequências, por exemplo, por causa da decisão de não cobrar pedágio sobre os eixos suspensos dos caminhões vazios e, segundo, por direcionar R$ 11 bilhões em recursos públicos para subsidiar o diesel, um dinheiro que poderia ser investido. “Regredimos mais que três décadas”, lamentou.