Educação financeira começa em casa

Os irmãos Isabela e Bruno, de 6 e 8 anos, sabem bem o valor do dinheiro. Mesmo com tão pouca idade, os dois já aprenderam que não podem comprar tudo o que querem e cada qual faz sua poupança separadamente – o maior tem R$ 46,00 guardados em um cofrinho, enquanto a menor, R$ 68,00. ?O Bruno é mais consumista, está na fase de querer produtos de marca. Esses tempos, propusemos comprar uma chuteira nova, de R$ 60,00 ou R$ 70,00, mas ele quis uma de marca, de R$ 130,00. Ele pagou a diferença?, conta a mãe Márcia Regina Saragioto Marçal, 31 anos, arquiteta. ?Desde que eles tinham 3 anos, a gente já procurava mostrar que nem sempre é possível comprar tudo o que se quer e que é importante poupar.?

O que Márcia e o marido vêm ensinando aos filhos é uma prática que vem se tornando cada vez mais comum – e necessária – na educação das crianças. Afinal, elas são, a todo momento, bombardeadas por propagandas de novos brinquedos, guloseimas. Com todas novidades nas prateleiras, fica até difícil resistir às tentações.

Para o economista e vice-presidente de finanças do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, Luiz Afonso Cerqueira, é possível começar a lição desde cedo. ?Levar a criança ao supermercado e fazê-la entender a relação de troca dinheiro/produto é um bom exercício?, orienta Cerqueira. ?Assim, ela começa a verificar que, muitas vezes, para ter um produto mais caro, ela precisa abrir mão de outros. Ou, então, aprender que, se ela comprar algo mais barato hoje, terá a chance de adquirir mais alguma coisa amanhã?, completa. Desta forma, a criança percebe que a aquisição do objeto de desejo não depende dos pais, mas do dinheiro que ela consegue manter em mãos.

Para crianças pequenas, o economista aconselha que os pais optem pelas ?semanadas?, ao invés de mesadas. ?A criança deve perceber que precisa controlar e organizar os gastos de acordo com o tempo, entender que se gastar muito e rápido, logo não terá dinheiro para mais nada?, esclarece o economista. Foi a alternativa feita pela arquiteta Márcia Marçal: toda semana, ela dá R$ 8,00 para o filho Bruno e R$ 6,00 para Isabela. ?Esse dinheiro é para comprar as coisas deles?, explicou Márcia.

Mesada

Segundo Cerqueira, à medida que os filhos vão crescendo, os pais podem adotar a mesada. ?Na adolescência, as responsabilidades aumentam. Por isso, a dificuldade também deve ser elevada e, agora, a missão é fazer o dinheiro durar mais tempo?, explica Cerqueira. No caso dos adolescentes, as tradicionais planilhas já podem ser adotadas. Toda vez que o dinheiro sai do bolso, o aprendiz anota em sua tabelinha o que foi comprado, quanto foi gasto e qual o saldo após a compra.

Fazer do dinheiro uma recompensa para tarefas cotidianas, como arrumar a cama ou ajudar com a louça, não é recomendado. ?Isso não é saudável. Essas tarefas fazem parte da educação básica. Devem ser compartilhadas e trocadas por carinho e elogios, não por dinheiro?, declara. Outra dica – que vale também para os adultos – é estimular a criança a se desfazer dos artigos velhos, à medida que for adquirindo novos. Desta forma, ela vai se acostumar a avaliar se realmente está precisando do que pretende comprar.

Regras

A diretora do curso de Ciências Econômicas da PUCPR, Solange de Lima Barbosa, também é favorável a mesadas, mas defende que sejam estabelecidas regras sobre como gastar o dinheiro. ?A mesada tem que ter o objetivo de promover a educação financeira, fazer com que a criança avalie o custo/benefício, o custo de oportunidade?, apontou. ?Infelizmente, o que se vê na maioria dos casos são pais que dão mesada para os filhos comprar o que quiserem, e o dinheiro da mesada acaba se transformando em coisas fúteis.? Foi o que aconteceu em sua casa. ?Meus pais davam mesada para o meu irmão menor, mas bancavam todos os outros gastos, como lanches, cinema. No dia que ele recebia o dinheiro, ia direto para o shopping e gastava tudo com CDs de jogos. Foi então que estabelecemos um conjunto de regras e hoje, com 14 anos, ele é mais responsável com o dinheiro?, relatou.

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