O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deverá reduzir em 0,50 ponto porcentual a taxa básica de juros (Selic) na sua reunião de julho, de atuais 12,00% ao ano para 11,50%, segundo as previsões de 63 de um total de 66 instituições financeiras consultadas pela Agência Estado. Apenas três instituições apostam na volta dos cortes de 0,25 ponto porcentual. A reunião deste mês, a de número 128, será realizada nos próximos dias 17 e 18, terça e quarta-feira, em um momento em que o mercado ainda digere o imbróglio criado pela definição da meta de inflação de 2009 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,50%.
Pouca coisa mudou no cenário econômico desde o Copom de junho até agora, afirma o economista-estrategista da Modal Asset, Alexandre Povoa – a não ser a discussão envolvendo a meta de inflação. Isso, para ele, é um forte argumento para que o Copom mantenha o ritmo de corte de 0,50 ponto porcentual da Selic. "O fato é que temos uma inflação projetada de 3,70% para este ano e de 4,00% para 2008. Portanto, mesmo que a inflação suba na margem, há um espaço muito grande a ser percorrido até chegar aos 4,50%", diz Povoa.
Quanto à discussão que envolveu a fixação da meta e a declaração de Meirelles, de que o BC buscaria uma meta de inflação inferior o economista da Modal é bastante objetivo. "Não cabe ao BC contestar a meta de inflação fixada pelo CMN. Cabe a ele buscar o que foi acertado", diz Povoa, acrescentando que, para a partir de setembro, é discutível a volta dos cortes d 0,25 ponto da Selic. "Mas não vejo o BC parando de cortar juros antes do final do ano", completa.
O economista Sérgio Vale, da MB Associados, está entre os que esperam a redução de 0,50 ponto da Selic. "Se cortar 0,25 ponto porcentual da Selic agora, o Copom indicaria para o mercado que errou na magnitude da redução na última reunião", diz Vale. Mas, para setembro, o economista da MB Associados acredita que o Copom voltará a cortar menos a taxa de juros por conta da alta que o mercado começou a colocar nas projeções para o IPCA.
Na Votorantim Asset, o economista-chefe Fernando Fix espera que a Selic será reduzida em 0,50 ponto porcentual para 11,50% ao ano. Ele afirma que trabalha com um cenário mais positivo para a inflação no curto e médio prazos. Segundo ele, para o ano que vem, as projeções apontam para uma inflação também abaixo da meta de 4,50%. "Além disso, as importações permitem que a atividade se expanda, sem que haja estrangulamento da inflação mesmo com a queda de juros", diz Fix.
"Não faz sentido numa reunião cortar 0,50 ponto porcentual e, na seguinte, reduzir 0,25 ponto", defende o economista e sócio da Costa Rego & Associados, Luiz Carlos Costa Rego. Ele citou como exemplo a inflação medida pelo IPC-Fipe na primeira quadrissemana de julho, que veio em 0,48% ante uma taxa de 0,55% no fechamento de junho. "É uma mostra de que não há pressão inflacionária", diz Costa Rego.
Já o economista Flávio Serrano, da Corretora López León, acredita que o cenário de avaliação do Copom "mudou um pouco" entre as reuniões de junho e julho. Destacou, porém, que isso não será suficiente para alterar a expectativa de novo corte de 0,50 ponto porcentual para a reunião deste mês. "O conflito entre os vetores de maior cautela do BC e de possibilidade de cortes de 0,50 ponto continua", diz. "Há sempre aquela dúvida gerada pela transmissão da política monetária (após seguidas reduções) na questão da atividade e, mais recentemente, o cenário interno de inflação no curto prazo piorou um pouco. Mas, por outro lado, o câmbio melhorou ainda mais para os preços e o nível de importação continua crescente", explica Serrano, adicionando que o cenário internacional está mais volátil e que o preço do petróleo subiu forte no exterior.
O economista-chefe do Banif Banco de Investimento, Marco Maciel, espera que o Copom corte a taxa Selic em 0,50 ponto, apesar de a tendência de elevação dos preços dos alimentos eventualmente persistir ao longo dos próximos meses. Maciel observa que a inflação de alimentos tem a característica de ceder abruptamente e repentinamente. A redução da velocidade de queda da Selic poderia ocorrer em setembro, em função da aceleração do crescimento econômico e da inflação (dessazonalizada) de serviços permanecer ainda relativamente elevada.
A diretora-financeira do Banrisul, Maria Lúcia Ferreira, espera uma redução de 0,50 ponto da Selic. Ela considera a elevação da inflação, mas ressalta que é preciso fazer uma depuração dos alimentos, que têm pressionado os índices, mas que, por representarem movimentos temporários, não provocarão choques mais à frente. Além disso, diz a diretora do Banrisul, os preços administrados devem subir menos no segundo semestre. "Nos primeiros seis meses do ano, acumularam alta de 1,30% e, no segundo semestre, deverão subir o suficiente para fecharem o ano em 2,00%.