O papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) a partir de 2015 dividiu nesta terça-feira, 27, duas linhagens de economistas em debate que deve antecipar um dos temas mais polêmicos da campanha presidencial na área econômica. Um dos mais influentes críticos da gestão Dilma Rousseff, o economista Mansueto Almeida, atacou a política industrial do governo, e a atuação do BNDES em especial, durante seminário realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) para discutir a indústria no Brasil.

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Depois de aumentar de tamanho no fim da gestão Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2008, e chegar ao atual patamar de representar 21% de todo o crédito no País, sob Dilma, o BNDES está diante de possível transição. O principal coordenador da atual política do banco de fomento, Luciano Coutinho (que preside a instituição desde 2007), afirmou em dois recentes depoimentos no Congresso Nacional que o BNDES precisa auxiliar a criação de um sistema privado de financiamento de longo prazo. Mas, ao mesmo tempo, Coutinho negociou com o Tesouro Nacional mais um aporte de recursos públicos no banco, que pode chegar a R$ 30 bilhões.

Segundo dados apresentados por Mansueto Almeida hoje, o Tesouro já repassou R$ 466 bilhões ao BNDES de 2008 ao ano passado, sem considerar, portanto, o novo aporte que está por vir. Economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atuante na formulação de planos na área econômica para a campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência, Almeida criticou essa opção do governo, que se endivida para sustentar o BNDES.

“Não tenho nada contra BNDES nem contra política industrial, mas o que interessa saber é o funding. De onde virá o dinheiro?”, criticou Almeida. “Houve um aumento brutal do endividamento público brasileiro para bancar essa política. Valeu a pena?”, afirmou. O dinheiro que o Tesouro coloca no caixa do BNDES é obtido por meio da venda de títulos públicos no mercado financeiro. Esses papeis pagam uma taxa próxima ou igual a Selic, hoje em 11% ao ano. O BNDES, no entanto, empresta a uma taxa muito menor, a TJLP, hoje em 5% ao ano. O Tesouro, portanto, subsidia os empréstimos feitos pelo BNDES às empresas.

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“Ao invés de direcionar recursos para criar indústrias no limite tecnológico, como fez a Coreia nos anos 70, que fez da maior exportadora têxtil do País, a Samsung, uma das principais fabricantes de eletroeletrônicos do mundo, aqui emprestamos dinheiro para uma empresa que abate gado e vende para o exterior. O que faz a empresa com o dinheiro do BNDES? Abate mais gado e vende mais ao exterior”, disse Mansueto, em crítica indireta ao papel do banco de fomento na sustentação da JBS Friboi. “As empresas estão certas, claro, em buscar o BNDES, porque os juros são muito baixos. Questiono a estratégia do governo, não a decisão empresarial”, afirmou.

O economista Marcelo Miterhof, do BNDES, também presente ao debate, rebateu. “Aqui no Brasil não direcionamos o financiamento (como fez a Coreia). Emprestamos para o empresário que tem projeto de investimento. O BNDES tem a função de suprir um problema estrutural do mercado financeiro brasileiro, que funciona sempre com juros altos. Passamos a contemplar nos últimos anos a internacionalização das companhias, e veja a JBS, que passou a ter mais marcas e está comprando empresas fora do Brasil”, disse Miterhof. Segundo ele, o banco colocou R$ 12 bilhões em JBS, Bertin, Marfrig e Brasil Foods, ao todo.

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“Há um custo fiscal para a atuação do BNDES, claro. Mas é indiscutível o sucesso de operações como o Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), que segurou o setor privado brasileiro durante toda a crise mundial que vivemos há seis anos”, defendeu Miterhof. Segundo o economista, as empresas apoiadas pelo banco na estratégia criada por Luciano Coutinho de formar “grandes campeões nacionais” estão entre as mais internacionalizadas do País, segundo ranking da Fundação Dom Cabral. “O Brasil não tinha grupos fortes mesmo em setores em que o País tinha alta competitividade”, afirmou.