O Brasil deve registrar saídas de investidores estrangeiros da bolsa de valores enquanto durar a volatilidade externa, em resposta à crise norte-americana. A afirmação é da economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.
Segundo ela, observa-se, hoje, um movimento chamado de “fuga de qualidade”. O investidor estrangeiro deixa as aplicações em bolsas de valores, no momento de crise, para aplicar em títulos do governo americano, por serem conhecidos como de “risco zero”, ou seja, têm retorno garantido no final da aplicação.
Além disso, o país já vinha registrando saída de dólares com as remessas de lucros e dividendos de empresas filiais no Brasil para cobrir as contas das matrizes no exterior.
A economista destacou que, entretanto, a saída de recursos poderia ser “mais brusca e preocupante” para o Brasil se o país não tivesse “bons fundamentos econômicos”.
Entre as características positivas do país, segundo ela, está o montante acumulado de reservas internacionais (acima de US$ 200 bilhões), o fato de a dívida pública doméstica não estar indexada a câmbio, o crescimento econômico, a redução do tamanho da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), e a inflação baixa, quando comparada com a de outros países.
“O Brasil tem bons fundamentos e, inclusive, a expectativa de que é um bom lugar para se apostar, porque tem uma promessa de crescimento sustentável. Além disso, conta com o pré-sal e o investment grade [classificação de agências internacionais que indica a confiabilidade do país para investimentos internacionais]. Os fundamentos de médio prazo vão voltar atrair os investimetos, assim que passar a volatilidade”, afirmou.
Alessandra também vê com bons olhos o fato da desvalorização da moeda brasileira, em relação ao dólar, ter sido bem menor que a depreciação de outras moedas. De acordo com a economista, do início do ano até hoje, o real se depreciou em 3,5%, percentual bem menor do que o de países emergentes como o Brasil e até de países desenvolvidos.
Ela citou a desvalorização das moedas locais, em relação ao dólar, na África do Sul (16,5%), Turquia (8,4%), Canadá (7,5%) e Austrália (9,9%) neste mesmo período. A desvalorização do real frente à moeda norte-americana é um efeito da forte saída de dólares do país.
A economista previu que as exportações brasileiras, por conta da crise externa, e também as importações apresentem recuo devido à expectativa de descaleração do crescimento da economia brasileira em 2009.
A projeção da economista é de que o superávit comercial – saldo positivo das exportações menos importações – feche o ano em US$ 22 bilhões e em US$ 11 bilhões, em 2009.
Neste ano, o superávit comercial, acumulado até a segunda semana de setembro, é de US$ 18,459 bilhões, valor 36,6% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado (US$ 29,127 bilhões), de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.