Economista da FGV vê risco para meta de inflação

O coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, não descarta a possibilidade de descumprimento da meta de inflação para 2010, de 4,5%. “Não é um risco de inflação elevada e sim um risco de não cumprimento da meta”, resumiu. “O comportamento de preços dos alimentos será decisivo para a inflação de 2010.”

Os comentários foram feitos hoje pelo economista, que analisou a movimentação de preços no varejo, que encerrou 2009 com alta de 3,95% no âmbito do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). O núcleo do indicador, que exclui as principais quedas e as mais expressivas elevações de preços junto ao consumidor, terminou o ano com alta de 3,70%.

O especialista observou que o ano de 2010 vai começar com o peso de preços referentes à inflação passada. Além disso, há o risco de um aumento na demanda do mercado interno, por conta da trajetória de recuperação econômica do País. “A tendência é que haja, ao longo do ano, um risco de superação da meta inflacionária. A economia está em uma fase de aquecimento” afirmou o especialista.

Também não há certeza sobre como os preços dos alimentos vão se comportar este ano. Quadros comentou que, de maneira geral, há um consenso de que será muito difícil repetir-se o cenário de quedas intensas e sucessivas de preços no setor de alimentação. “Não vai haver explosão inflacionária”, disse.

Deflação

A deflação mostrada pelo IGP-DI de dezembro, de 0,11%, não deve se repetir nos próximos resultados do indicador. Segundo Quadros, a queda de preços mostrada pelo índice de dezembro é um recuo pontual, sem chances de se transformar numa tendência para 2010. “Grande parte da queda de preços no atacado em dezembro (baixa de 0,29%) foi originada de produtos agrícolas, cujos recuos não deverão ter muita continuidade”, afirmou. Somente os alimentos in natura, cuja variação de preços é muito volátil, tiveram deflação de 4,86% no atacado em dezembro. “Em janeiro, o IGP-DI deve encerrar o mês em alta”, afirmou.

O especialista comentou que as perspectivas para o início deste ano são bem diferentes das mostradas nos primeiros meses do ano passado. Na avaliação de Quadros, o ano de 2010 deve mostrar aumentos de preços mais coerentes com uma recuperação na economia mundial. Porém, ele não espera que a inflação no primeiro semestre de 2010 apresente patamar equivalente ao mostrado nos primeiros seis meses de 2008, por exemplo. Isso porque, naquela época, tanto a economia brasileira quanto a economia mundial apresentavam movimento de forte expansão.

O cenário do início de 2010 também será semelhante ao ambiente de preços mostrado no começo do ano passado. “Durante o primeiro semestre de 2009, tivemos claramente um processo de deflação, mas bem diferente do processo atual”, disse. Ele lembrou que as quedas de preços registradas no início do ano passado refletiam um cenário de menor aquecimento econômico, com traços de recessão e influenciado por um ambiente internacional turbulento, de crise global. “A queda mostrada em dezembro do ano passado não deve se repetir em janeiro. Não tem razão para que isso ocorra novamente”, afirmou.

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