O ano eleitoral ainda não começou, mas os principais partidos já estão organizando convenções para escolher equipes e elaborar programas que irão conduzi-los nas eleições gerais de 2006. Considerada o principal pilar de sustentação do governo, a política econômica está no centro do debate, aquecido pela polêmica em torno do superávit primário (receitas menos despesas, sem contar o gasto com juros).
A briga entre os ministros de Lula estimula a oposição a formular alternativas, entre as quais há consenso sobre a necessidade de reduzir juros e elevar o crescimento. Os dirigentes dos cinco partidos consultados, entre eles o PT, informam que estão começando a debater as idéias que serão levadas aos diretórios dos seus partidos, para compor os programas eleitorais de 2006.
Todas elas incluem o aumento do crescimento como princípio e variam na forma como cada um pretende alcançar este objetivo. ?De maneira geral, o pragmatismo substituiu o discurso mais ideológico, contra a globalização capitalista e os lucros desmedidos?, analisa o sociólogo Paulo Roberto de Almeida. Segundo ele, isso deve abrir espaço para a discussão da eficiência da gestão pública e do combate à corrupção. Para o economista Ricardo Carneiro, da Universidade de Campinas (Unicamp), o debate está concentrado na gestão da política econômica de curto prazo, que deveria ser secundária em relação a um projeto de desenvolvimento de longo prazo para o País.
Ricardo Berzoini, presidente do PT, defende a manutenção das metas de inflação e um programa de financiamento do crescimento. E se alinha à ministra Dilma Rousseff contra um superávit primário superior a 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto das riquezas geradas no país), como o que está sendo produzido pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci. ?O debate no PT ainda está sendo iniciado, a partir de conversas com o próprio governo. Nosso balanço do conjunto de indicadores econômicos é positivo. A partir dessas conquistas, queremos estabelecer o processo de financiamento do crescimento, com investimentos em saneamento e habitação?, afirma Berzoini.
Já Alberto Goldman, presidente do principal partido de oposição, o PSDB, diz ter muitas críticas à política econômica. Ele trabalha na revisão do programa da legenda, mas lamenta ainda não ter formulado uma proposta alternativa à do governo. Defende a manutenção das metas de inflação e uma queda mais agressiva dos juros, combinadas com redução de gastos correntes.
O PFL propõe redução de impostos e corte expressivo da despesa pública. O ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause, que coordenou a revisão das propostas do partido, é duro nas críticas: ?Lamentavelmente, essa discussão no governo não é séria. Não tem nada a ver com um projeto de desenvolvimento, até porque hoje quem financia o investimento é o setor privado. Querem é uma folia de gastos para financiar a campanha?, disse ele.
Krause defende a reforma do estado, trabalhista e tributária. Para ele, a proposta de ajuste fiscal de longo prazo, feita por Palocci, merecia mais respeito dos demais membros do governo, mas acha que o ministro já perdeu essa briga:
?O prazo de validade do ministro Palocci já expirou. Ele já caiu?, acrescentou.
À frente da elaboração das propostas do PMDB, o ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, acredita ter chances de reviver os bons tempos em que o seu partido atuava como a grande frente da esquerda contra a ditadura militar. ?De novo é necessário o MDB para voltar às origens da socialdemocracia. Temos que pensar o desenvolvimento. Nós removemos o entulho autoritário do País e agora temos que remover o entulho neoliberal?, afirmou.
Em dois meses, Lessa realizou seis reuniões em diversos estados para apresentar suas idéias a grupos de até cinco mil pessoas. Ele quer unir o partido em torno de propostas como a redução ou eliminação do superávit primário e do controle de capitais estrangeiros. Para ele, a meta de inflação deve ser subordinada à geração de emprego. ?O Brasil tem que crescer pelo menos 5% ao ano para fazer frente ao estoque de mais de 22 milhões de brasileiros no desemprego ou no subemprego. O governo gasta R$ 145 bilhões com juros da dívida pública. Já o Bolsa-Família, seu maior programa social, é de R$ 7 bilhões?, acrescentou Lessa.
Junto com o PMDB, o P-Sol também apresenta idéias mais radicais de mudanças na política econômica. Milton Temer, membro da executiva nacional, destaca duas frentes de ação: o fim dos elevados ganhos financeiros e da abertura ao capital internacional. ?O sistema financeiro não pode continuar controlando o Banco Central?, diz ele.
Temer defende uma reforma agrária radical, que mude inclusive a relação entre a população rural e urbana. Segundo ele, a diminuição das populações das cidades teria ainda o efeito positivo de diminuir a violência. ?Não estou defendendo nenhum regime socialista, mas uma economia soberana e democrática?.