A economia brasileira encolheu 0,1% em 2014 na comparação com o ano anterior, estima o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) por meio do Monitor do PIB, que tenta antecipar o indicador mais importante da economia por meio das mesmas metodologia e fontes de informação.

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Caso o resultado seja confirmado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo oficial, será o pior desempenho desde 2009, ano em que a economia doméstica sofreu os impactos mais intensos da crise econômica mundial.

O resultado, porém, deve ser analisado com reservas, já que o Ibre/FGV emprega a metodologia atual de cálculo do PIB em sua estimativa. Mas o IBGE trará o resultado de 2014 já contabilizado segundo um novo modelo, atualizado e de acordo com as recomendações mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU).

É por esse motivo também que os dados inéditos serão conhecidos apenas em 27 de março – cerca de um mês depois do habitual. O IBGE promete ainda revisar resultados de anos anteriores.

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“Não podemos achar que está correto porque o IBGE vai mudar tudo. Não sei o quanto muda (no resultado), mas tudo é possível”, pondera o economista Claudio Considera, que já chefiou a Coordenação de Contas Nacionais do IBGE e hoje atua como pesquisador associado do Ibre/FGV, onde é responsável pelo Monitor.

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Apesar das prováveis mudanças, Cláudio Considera nota que a economia se mostrou enfraquecida ao longo de todo o ano passado. No último trimestre, pelo Monitor, o PIB recuou 0,30% ante o terceiro trimestre e caiu 1,1% em relação ao quarto trimestre de 2013. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

“De fato, passamos por uma recessão o ano inteiro. Tivemos apenas um suspiro no terceiro trimestre, mas mesmo assim muito pequeno”, analisa o economista.

“Falam que o Levy (ministro da Fazenda, Joaquim Levy) vai levar o País à recessão, mas recessão já deu, e a ‘nova matriz macroeconômica’ foi a responsável por isso”, acrescenta. A crítica de Considera é voltada à política que, durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, mirou em juros mais baixos, câmbio mais desvalorizado em relação ao dólar e política fiscal anticíclica – com desonerações para tentar reanimar a atividade doméstica.

Atividades

Pela metodologia atual de cálculo do PIB, o resultado de 2014 apontado pelo Monitor foi determinado pelo comportamento negativo da indústria, que minguou 1,9%, e pela redução na arrecadação de impostos pelo governo. “Os impostos dependem muito do que foi produzido na indústria de transformação e dos serviços”, diz Considera.

No setor produtivo, o segmento de transformação encolheu 3,9%, o que também promete ser o pior desempenho desde 2009. Mas o maior tombo foi na construção, com recuo de 6%. Trata-se do pior resultado desde pelo menos 1996. O segmento extrativo, contudo, cresceu 7,8%, após ter amargado retração em 2013.

Os serviços, que respondem por mais de dois terços da renda gerada no Brasil, fecharam o ano de 2014 com alta de 0,7%, de acordo com o Monitor. Se confirmado o resultado, o motor da atividade doméstica nos últimos anos terá crescido no menor ritmo em pelo menos duas décadas. “(A renda do) Comércio desabou, e os outros serviços também caíram”, nota Considera.

Os segmentos de transportes e serviços de informação, por outro lado, impediram que o resultado fosse ainda pior. A agropecuária, por sua vez, mostrou crescimento de 1%, bem aquém do avanço de 7,3% observado em 2013, mas ainda acima de 2012, quando uma quebra de safra fez com que a atividade do campo encolhesse no País.

Para as estimativas, foram compilados todos os dados de janeiro a novembro e 70% das informações de dezembro, faltando apenas a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) os dados de intermediação financeira referentes ao último mês do ano passado.