Foto: Hederson A. Silva

Estado deixou de ser meramente produtor primário para se transformar em centro comercial.

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Ao longo dos últimos dez anos, o Paraná assistiu a importantes transformações no seu perfil econômico. O agronegócio segue com presença forte, mas um setor, especificamente, deu uma ?nova cara? ao Paraná: a indústria automotiva. A vinda de montadoras como a Renault e a Volkswagen-Audi, no fim da década de 90, deu novo impulso à economia paranaense. A novidade, porém, não ficou apenas na indústria automotiva. Outros setores, como o de refino de petróleo e o de reciclagem, ganharam importância. O resultado é que o Paraná deixou de ser um Estado meramente agrícola para entrar na rota da industrialização. Também passou a adicionar valor agregado aos seus produtos, o que garantiu incremento no Valor de Transformação Industrial (VTI) – o PIB industrial -, que saltou de R$ 8,4 bilhões para R$ 32,4 bilhões entre 96 e 2005.

?A indústria automotiva foi de fato o carro-chefe desse período?, apontou o coordenador do curso de Economia da UniFae, Gilmar Lourenço. Entre 95 e 2002, segundo o economista, o Paraná recebeu investimentos privados da ordem de R$ 12 bilhões – quase 40% do volume foi para o setor de fabricação e montagem de veículos automotores, seguido pela indústria de alimentos e bebidas, com 11%. ?Doze bilhões de reais é um volume excelente. Em compensação, de 2003 para cá, os investimentos foram irrisórios?, afirmou o economista, acrescentando que, em nível nacional, os investimentos também se tornaram menores.

Segundo o economista, dois fatores interferiram na atração de investimentos em nível nacional a partir de 96: a estabilidade monetária e o interesse das empresas em sair do pólo industrial paulista. ?As empresas buscaram locais com infra-estrutura adequada, mão-de-obra qualificada e um local que ligasse São Paulo ao Mercosul. O Paraná apresentava todas essas vantagens comparativas, além de oferecer incentivos fiscais?, comentou o economista.

Ao contrário daquele período, hoje o Paraná oferece poucos benefícios para atrair novas indústrias. ?Na década de 90, o Estado participava de inúmeras negociações, conversas políticas para atrair indústrias. Hoje não há interesse do governo em buscar grandes projetos. A Toyota, por exemplo, deve ir para São Paulo porque o Paraná não brigou para conseguir trazer a empresa para cá, sequer manifestou interesse?, apontou.

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Mesmo empresas locais estão buscando outros destinos. É o caso da Britânia, fundada em São José dos Pinhais, cuja produção foi transferida para a Bahia no ano passado. ?Lá, a empresa encontrou incentivos fiscais e tem propileno (matéria-prima do plástico) próximo?, explicou.

Diversificação

Para o economista Roberto Zurcher, do Sistema Fiep (Federação das Indústrias no Estado do Paraná), a diversificação foi o fato mais marcante da economia do Estado nos últimos dez anos. ?O Paraná continua dependendo muito da renda agrícola, mas o Estado está menos vulnerável a crises agropecuárias. A quebra das duas últimas safras, por exemplo, não afetou a indústria como afetaria dez anos atrás?, analisou.

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O adicionamento de valor agregado é outro fator importante. ?As montadoras tiveram papel fundamental. O setor de madeira também passou a investir no MDF?, comentou. Quanto aos incentivos fiscais, ele lembrou que a pesquisa realizada pela Fiep com empresas no ano passado mostrou que os incentivos ficaram na quinta posição quando o assunto eram as vantagens de se localizar no Paraná. ?Elas estão aqui pela proximidade com os clientes, fornecedores, mão-de-obra qualificada, infra-estrutura. Algumas vantagens compensam a falta de outras?, arrematou Zurcher.

(Nos próximos domingos, a economia paranaense sob o ponto de vista da agropecuária e do comércio.) 

Falta de uma política industrial preocupa

A falta de uma política industrial preocupa e atrapalha o desenvolvimento econômico de qualquer região. ?Não existe política industrial nem no Brasil nem no Estado?, sentenciou o economista Gilmar Lourenço, da UniFae. ?O que existe de comum entre a gestão atual do governo do Estado e a anterior é a falta de política industrial?, concordou o economista Cid Cordeiro, do Dieese-PR (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, regional Paraná).

De acordo com Lourenço, não há como o Paraná elaborar uma política industrial enquanto o governo federal não o fizer primeiro. ?O que o Estado pode fazer é criar um ambiente favorável para a realização de negócios, definindo claramente os ramos de atividades a serem incentivados no Paraná. Mas isso também não existe?, lamentou. ?O que o governo do Estado faz é isentar micros e pequenas empresas do ICMS, além de incentivos à agricultura familiar. É algo positivo, mas o efeito multiplicador disso é muito pequeno.? Para o economista, a falta de uma agenda de desenvolvimento pode comprometer o Paraná no futuro. ?Há estados com projetos articulados, que podem sair na frente quando a economia brasileira retomar o crescimento.?

Sob responsabilidade

Para Cid Cordeiro, o governo interfere no crescimento econômico do Estado, à medida em que ele é o responsável pela política de desenvolvimento e industrial, política de atração de investimentos, equilíbrio das contas públicas, além da logística, como portos, conservação das estradas estaduais. ?São fatores importantes que estão sob a responsabilidade do governo e que interferem no desempenho econômico do Estado?, apontou. O economista criticou a falta de política industrial tanto no governo atual como no anterior. ?A diferença é que no anterior havia forte política de atração de investimentos, o que não existe hoje. Por outro lado, o piso regional trouxe avanço importante e os gastos públicos estão mais transparentes no governo atual?, comparou Cordeiro.

A secretaria estadual de Indústria, Comércio e Mercosul foi procurada pela reportagem para falar sobre política industrial, mas não houve retorno até o fechamento da edição.