Um conjunto de dados divulgados ontem (19) mostrou a piora da situação econômica, com o aprofundamento do que os especialistas chamam de estagflação – uma combinação de economia parada com inflação alta. Para alguns economistas, o quadro lembra, ainda que em doses bem menores, as crises enfrentadas pelo Brasil nos anos 1980 e 1990.

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“O quadro de estagflação já existe desde o ano passado, mas agora ingressa num estágio mais grave”, disse José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos.

O IPCA-15, prévia da inflação oficial, avançou 0,99% em junho, maior taxa para o mês desde 1996. Já o Ministério do Trabalho informou o fechamento de 115.599 postos de trabalho em maio, o pior resultado para o mês desde 1992.

“O quadro é pior do que o de estagflação. Temos recessão com inflação”, disse Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP. “Isso remonta ao início dos anos 80, com a crise da dívida, e ao início dos anos 90, com a crise do (ex-presidente Fernando) Collor”, completou o economista, referindo-se aos momentos em que o Brasil declarou moratória da dívida externa e o governo confiscou a poupança da população para conter a inflação.

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PIB em queda

O dia começou com o Banco Central (BC) divulgando o IBC-Br, indicador que procura antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de toda a renda gerada no País). Em abril, o índice caiu 0,84% em comparação a março.

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O BC também fez revisões no IBC-Br: em fevereiro, a alta passou de 0,59% para 0,70%, mas em março, a contração de 1,07% passou para uma queda de 1,51%, reforçando ainda mais as perspectivas de retração da economia neste ano.

Com o recuo da economia, o mercado de trabalho continua a piorar. O corte de 115.599 vagas divulgado ontem ficou acima da previsão de fechamento de 52 mil postos de trabalho feita por analistas do mercado ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

Logo depois da divulgação do IBC-Br, foi a vez de a inflação surpreender os analistas. O IBGE divulgou o IPCA-15: a taxa de 0,99% veio acima das projeções de mercado, que variavam de 0,71% a 0,90%, segundo levantamento do Broadcast.

“A inflação neste ano deverá subir 9% e o PIB terá forte queda, entre 1,5% e 2%”, disse Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de economia internacional, em Washington.

Camargo, da PUC-Rio, projeta retração de 1,5% no PIB este ano, enquanto Lacerda, da PUC-SP, é ainda mais pessimista, prevendo que a economia encolherá 2,0%.

Para a economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), os dados de ontem corroboram sua projeção de recuo de 1,6% no PIB este ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.