Economia cresceu 6,1% no terceiro trimestre

A economia brasileira cresceu 6,1% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, segundo informou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Trata-se do melhor resultado desde o terceiro trimestre de 1996. Nos nove primeiros meses deste ano, o PIB (Produto Interno Bruto) acumula expansão de 5,3% sobre o mesmo período de 2003.

O resultado registrado no terceiro trimestre supera o do segundo trimestre, quando a economia registrou expansão de 5,7% na mesma base de comparação. Na comparação com o segundo trimestre, a economia cresceu 1%. Ou seja, menos que a expansão de 1,5% do segundo trimestre em relação ao primeiro. A desaceleração deve-se ao setor agropecuário, que amargou retração de 3,6% no terceiro trimestre. Na outra ponta, a indústria puxou o crescimento da economia, com expansão de 2,8%.

De forma geral, os bons resultados da economia brasileira refletem o desempenho favorável de indicadores como emprego, indústria e salários. Entretanto, alguns indicadores já começam a se tornar foco de preocupação, como a retomada da trajetória de alta dos juros.

A taxa básica já subiu 1,25 ponto percentual desde setembro e a expectativa de analistas continua a ser de novos aumentos. Crédito caro dificulta o chamado investimento na economia real e encarece os custos para o empresariado. Com isso, a criação de vagas diminui e o ciclo de expansão tende a reduzir-se.

Os produtos agrícolas têm atuado como moderadores da inflação e mesmo em períodos de entressafra têm evitado que os indicadores de preços subam ainda mais. Até mesmo as commodities agrícolas, como a soja, tem registrado expansão moderada. Com o dólar mais barato, na faixa de R$ 2,75, os produtos brasileiros perdem competitividade e os saldos da balança, que vêm puxando o crescimento econômico brasileiro, tendem a ficar menos vigorosos.

Na contramão, produtos como aço, que tem o preço regulado no mercado internacional, matérias plásticas e embalagens têm ajudado a pressionar a inflação. Além disso, a forte alta dos combustíveis, após os reajustes concentrados nos meses de outubro e novembro do diesel e da gasolina, anunciados pela Petrobras, foi responsável pela aceleração da inflação em novembro.

Em setembro, a indústria registrou crescimento zero. Apesar da esperada perda de fôlego após seis meses de crescimento, a estabilidade acende o alerta de que nem mesmo as encomendas de fim de ano teriam sido capazes de dar suporte ao crescimento da indústria.

No comércio a perda de fôlego foi mais clara. Em setembro, as vendas aumentaram 8,87%. Em julho, a expansão chegava a 12%.

Os indicadores de emprego e renda também têm mostrado sinais dúbios. Enquanto o desemprego cai com consistência, a renda alterna momentos de expansão e retração. Em outubro, ela caiu em razão da qualidade do emprego gerado no País. Com o aumento das vagas na construção civil, setor que historicamente é reconhecido pela baixa remuneração, a renda acabou por diminuir.

Metodologia

O PIB é a soma das riquezas produzidas por um país. É formado pela indústria, agropecuária e serviços. O PIB mostra o comportamento de uma economia.

O PIB também pode ser analisado a partir do consumo, ou seja, pelo ponto de vista de quem se apropriou do que foi produzido. Nesse caso, o PIB é dividido pelo consumo das famílias, pelo consumo do governo, pelos investimentos feitos pelo governo e empresas privadas e pelas exportações.

Resultado responde as críticas

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, afirmou que os números positivos do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) servem como uma resposta às críticas feitas à política fiscal e monetária do governo federal, que seguem tendo o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O IBGE divulgou que o PIB cresceu 6,1% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Trata-se do melhor resultado desde 1996. No ano, a economia brasileira acumula crescimento de 5,3%.

"Melhor que uma resposta minha, são os números que devem responder se a evolução do crescimento está indo bem ou não", disse o ministro. "Eu recebo as críticas de coração aberto. Eu recebo considerações, mesmo de colegas de meu partido, com muita legitimidade. Agora, é preciso ter a serenidade de ver como as coisas evoluem", afirmou.

Palocci disse que não vê motivos para mudanças nessas políticas, que contam com o apoio do próprio presidente Lula, com quem o ministro esteve reunido logo após a divulgação oficial dos resultados do PIB.

Ele também disse que o governo não quer repetir os "erros do passado", como relaxar a política econômica, e reafirmou a meta de superávit primário de 4,25% do PIB para 2005. Palocci citou o projeto piloto em estudo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para retirar investimentos da ordem de R$ 2,5 bilhões das contas do superávit primário, mas disse que isso não representa mudança nas metas fiscais.

O ministro defendeu o sistema de metas de inflação e comparou sua importância à que a democracia tem para o país. "O sistema de metas de inflação, frente a outros sistemas, continua sendo o melhor, continua sendo o menos custoso", afirmou.

Crescimento é reflexo da política econômica

O "crescimento extraordinário" da economia brasileira reflete o sucesso da política econômica do governo. Essa é a impressão do presidente do Banco Central, Hen-rique Meirelles, ao comentar os dados do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas por um país). Por quase uma hora, ontem, Meirelles falou sobre os trabalhos do BC aos membros da Comissão Mista de Orçamento. Por inúmeras vezes, ele ressaltou o crescimento "vigoroso" da economia. Após sua exposição, ele respondeu às questões dos deputados e senadores presentes na audiência pública.

De acordo com o presidente do BC, a condução da política monetária, com o aumento da taxa básica de juros da economia (Selic), não pode ser analisado somente do ponto de vista do impacto na dívida pública – parte dos títulos da dívida pública são remunerados pela Selic. Segundo ele, a política monetária também tem efeitos nas expectativas sobre a inflação, câmbio e exportações.

Para Meirelles, o Brasil está crescendo a taxas vigorosas, e isso ocorre após a crise cambial de 2002. Naquele ano, o Brasil enfrentou uma crise de confiança devido às incertezas quanto à sucessão presidencial.

"O Brasil saiu de uma crise cambial grande, que em outros países levaria a uma retração do produto", disse ele, lembrando que o PIB de 2003 foi revisado para um crescimento de 0,5%, ante uma queda de 0,2%.

Meirelles ressaltou ainda que a revisão dos dados do ano passado tornam o crescimento deste ano ainda mais expressivo, já que a base de comparação torna-se mais alta.

O atual momento da economia brasileira, na avaliação do presidente do BC, é de um "círculo virtuoso e sustentável", e que isso é atestado pelos recentes dados sobre investimento, produção industrial, vendas, criação de emprego e saldo comercial.

Segundo Meirelles, a manutenção do superávit comercial, mesmo com o crescimento das importações, "mostra a força competitiva brasileira".

No acumulado do ano até a terceira semana de novembro, o superávit da balança comercial era de R$ 29,559 bilhões, valor 36,38% maior que o registrado no mesmo período do ano passado (US$ 21,674 bilhões). No ano passado inteiro, o superávit foi de US$ 24,831 bilhões.

FMI

"O Brasil já tem condições de não considerar a renovação (do acordo) com o Fundo (Monetário Internacional)", disse Meirelles. No entanto, ele afirmou que a "decisão final será tomada no devido tempo".

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