Dados da produção e vendas da indústria em agosto, divulgados ontem, sugerem que a economia pode ter começado a respirar novamente após a forte contração no primeiro semestre provocada pelas altas taxas de juros.
A produção industrial cresceu 1,5% em agosto contra julho, enquanto as vendas reais do setor subiram 3,77% no mesmo período, segundo dados com ajuste sazonal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Mas na comparação com igual mês do ano passado, tanto a produção quanto as vendas amargaram sua quinta queda consecutiva.
Segundo economistas, os indicadores de produção e vendas corroboram os prognósticos de que a economia saiu do fundo do poço e caminha para uma recuperação modesta no fim do ano. As vendas sazonais de Natal e os ganhos reais, ainda que modestos, dos salários com a queda da inflação seriam os motores dessa retomada.
“A indústria pode estar produzindo mais, preparando-se para uma retomada do consumo no fim do ano”, disse Sílvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE.
As vendas reais da indústria tiveram em agosto seu maior crescimento na comparação mês a mês desde fevereiro, quando houve um aumento de 8,78%. Como na produção, foi o segundo mês seguido de expansão.
Para Flávio Castelo Branco, economista da CNI, o resultado de agosto solidifica o ambiente de melhora gradativa das vendas reais. Ele ressaltou que o faturamento ainda não reflete um aumento da produção mas sim uma desova de estoques.
“É um primeiro passo para a recuperação da atividade”, disse ele a repórteres.
Castelo Branco notou que o salário líquido real aumentou 0,72% em agosto contra julho, sua quinta alta consecutiva, o que aponta para uma recuperação na margem do poder de compra, abrindo espaço para melhorar o cenário econômico na virada do ano.
A economia entrou em recessão no primeiro semestre, nocauteada por uma seqüência de altas de juros para conter a aceleração da inflação do início do ano. Os juros básicos, que chegaram ao pico de 26,5% em fevereiro, começaram a cair em junho, com cortes mais agressivos em agosto e setembro, levando a taxa para os atuais 20% ao ano.
Paraná
Os números da indústria do Paraná confirmam essa tendência de alta, embora os resultados não tenham sido suficientes para recuperar as perdas acumuladas no ano. As vendas aumentaram 4,51%, em comparação a julho. Mas o percentual negativo de volume de negócios acumulado em 2003 foi de 12,07%.
Os dados constam da pesquisa Indicadores Conjunturais da Indústria, divulgados ontem em Curitiba. Ainda de acordo com a pesquisa, o gênero bebidas foi o que registrou maior crescimento, com 140,12%, seguida pelo setor de vestuário/calçados/artefatos de tecidos (com 37,65%) e o segmento de material elétrico e de comunicações (com 26,38%). Já o nível de emprego permanece estável em 6,43%, se comparado a 2002. O setor têxtil foi o que mais empregou, com 102,46% de aumento nas ofertas de vagas.