Economia brasileira tem sinais de recessão

Rio

  – Sinais de recessão já se desenham nas últimas pesquisas feitas com empresários da indústria, segundo Salomão Quadros, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Responsável pela sondagem industrial da instituição, Quadros diz que o nível de consumo de bens e serviços no País caiu bastante ? 12 pontos percentuais ? de abril para julho.

“O cenário captado pela última sondagem é semelhante ao verificado em 1982, antes da maxidesvalorização, quando houve a crise da dívida pública, e ao de 1998, anterior à moratória russa (que culminou com a desvalorização do real, no início de 99). Foram períodos que antecederam recessão. Não quer dizer, necessariamente, que teremos recessão no segundo semestre, mas há sinais”, diz Quadros.

Historicamente, o terceiro trimestre tem um saldo de previsões positivas mais elevado que o segundo. Mas desta vez aconteceu o inverso, mostrando que a indústria está andando para trás. Quadros afirma que, se houver uma piora ainda maior no quadro macroeconômico, o segundo semestre pode ser de uma coleção de resultados negativos na produção, configurando um período recessivo.

Desanimadores

Até maio, a produção industrial do País acumulava queda de 0,3% em comparação com janeiro a maio do ano passado. Nos últimos 12 meses, a redução é maior: -1,2%. O movimento também apresenta resultados desanimadores. Pelo indicador da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as vendas reais caíram 1,46%; o pessoal empregado, 0,78%, e o salário real médio, 0,44%. Além disso, o nível de estoque foi o maior registrado desde o início da série, em 98. O indicador ficou em 56,9 pontos, o que significa que 40,4% dos industriais apontaram estoques acima do estimado:

“Não devem ocorrer mudanças significativas no resultado do semestre. Para os próximos meses, se houver alta, será mais por efeito estatístico. Em 2001, nessa época estávamos no auge do racionamento,” explica Simone Saisse, coordenadora-adjunta da CNI, entidade que reviu para 1% a projeção para o crescimento da produção de 1,6%, de dezembro de 2001.

A valorização constante do dólar (que só em julho chegou a 23,05%) está engessando mais ainda o nível de atividade. Os negócios entre varejistas e a indústria de eletrodomésticos e eletroeletrônicos praticamente pararam na semana passada. As fábricas não despacham os pedidos, já que não há um parâmetro para negociar preços com os comerciantes. A maioria dos insumos para produção desses itens é importada.

Além da alta do dólar, a economia sofre com o encolhimento na renda do trabalhador, que vai para o quinto ano de queda. Sem dinheiro, o consumo cai e a produção industrial vai junto. Pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, de janeiro a maio de 2002, a redução está em 4,6%.

A corrosão do salário não deve parar, já que a inflação, pressionada pela valorização da moeda americana, começa a subir. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) de julho fechou em 1,95%, a maior taxa desde agosto de 2000. O impacto da desvalorização do real fez o Índice de Preços do Atacado (IPA) subir a 2,66%. No varejo, os reajustes nas tarifas públicas, como energia e telefone, além das altas na gasolina e gás de bujão, foram os responsáveis pela variação de 0,90% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

Queda

“Se essa turbulência na economia continuar, a situação pode piorar,” disse Mauro Pacanovisk, superintendente da rede Max/Padrão, com 200 lojas no Rio. Ele admitiu que, de junho para cá, o consumo caiu cerca de 2%.

As pesquisas do Instituto Fecomércio já registram uma alta de 0,17% em julho, contra deflação no setor de 1,17% em junho. É o reflexo do término das promoções que afetou principalmente os psicotrópicos e anoréxicos, que subiram 3,2%.

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