A nova presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos Marques, afirmou nesta quarta-feira, 1, que é preciso fazer uma “reciclagem” nas participações acionárias do BNDESPar. Apesar disso, ela não firmou prazos para que haja uma revisão na carteira.
“Por definição, o BNDESPar não deveria ter participações permanentes (em empresas). Entendo que deveríamos fazer uma reciclagem dessas participações”, afirmou Maria Silvia em entrevista coletiva na tarde de hoje, na sede do banco, no Rio. “Por outro lado, tem o momento do País”, ponderou.
Segundo Maria Silvia, é preciso avaliar o momento certo para modificar a carteira do BNDESPar e quais ativos serão priorizados. “Temos que analisar carteira”, disse. Ela destacou ainda que o BNDESPar é um braço importante para o fomento do mercado de capitais no Brasil.
Petrobras
A necessidade de capitalizar a Petrobras é discussão de governo e, embora a estatal esteja profundamente ligada ao BNDES, a nova presidente da instituição de fomento afirmou nesta quarta-feira que não foi chamada a tratar do assunto.
Perguntada se o BNDES poderia ajudar com alguma solução “não ortodoxa” para a situação financeira da Petrobras, Maria Silva respondeu: “Solução não ortodoxa não vai ter não”, disse.
Maria Silvia lembrou que foi membro do conselho de administração da Petrobras, no governo Fernando Henrique Cardoso, ao lado do novo presidente da estatal, Pedro Parente. “(BNDES e Petrobras) Estão intrinsecamente ligados, mas discussão se precisa ou não capitalizar a Petrobras é discussão de governo, que não foi colocada comigo”, disse.
A exposição do BNDES à Petrobras passa de R$ 50 bilhões, segundo cruzamento de dados feito pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, em 2015 e fontes com conhecimento do assunto. O valor é o dobro do que seria permitido pelos limites prudenciais do Banco Central, e o BNDES só não está desenquadrado porque resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) abrem exceções nas regras.
Ambiente regulatório
A nova presidente do BNDES afirmou que o País deve estar aberto ao capital estrangeiro, que já foi importante na época das privatizações.
Na visão dela, o ciclo de privatização de grandes empresas estatais industriais está esgotado, mas ainda há concessões a serem feitas. Para a economista, o ambiente regulatório é muito importante. “Precisamos ter isso bem definido, com agências fortes.”
Maria Silvia afirmou ainda que, certamente, o apoio do BNDES a investimentos não será com recursos públicos. Ela ressaltou que o BNDES certamente terá papel importante nas concessões. A forma como a instituição deve atuar e em que condições ainda não estão definidas, ponderou a executiva. Ela ressaltou que não há uma medida única para alavancar os investimentos no País. Segundo ela, é um processo de retomada de confiança. “Temos que dar os passos necessários, mas a resposta não sei ao certo quando vai acontecer. São muitas variáveis, não só econômicas, mas políticas também”, disse.
A executiva vem destacando em seus discursos o início de uma “nova fase” no banco, mas apontou na coletiva de hoje que os grandes grupos não deixarão de ser financiados. “Mas, em situação normal, eles têm acesso ao mercado privado”, observou.
TJLP
A nova presidente do BNDES afirmou também que a equipe econômica do governo do presidente em exercício Michel Temer vai se debruçar sobre a taxa de juros de longo prazo (TJLP, hoje em 7,5% ao ano). “É uma discussão de governo”, afirmou Maria Silvia.
A TJLP remunera a maioria dos empréstimos do BNDES – e também os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) aplicados no banco e os aportes do Tesouro Nacional. Como a TJLP é inferior à Selic (taxa básica, hoje em 14,25% ao ano), é um juro considerado subsidiado. Por causa do uso da TJLP, os aportes dos recursos do Tesouro no BNDES provocam um custo oculto nessas operações.
“Não sei se vai mudar. Mas que certamente vamos rediscutir, vamos”, disse Maria Silvia.