A instabilidade política e as dificuldades fiscais criaram um momento de pessimismo na economia do País e, por isso, é preciso concretizar logo os ajustes, afirmou nesta terça-feira, 15, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, que reconheceu que o ciclo recente de crescimento teve virtudes, mas gerou desequilíbrios.

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“É preciso concretizar os ajustes, virar a página e pensar na economia brasileira a médio e longo prazo”, afirmou Coutinho, durante palestra na abertura da Sessão Especial do Fórum Nacional, promovido no Rio pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), comandado pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso.

Instado pelo ex-ministro a falar sobre estratégia para o Brasil perseguir o “alto crescimento”, Coutinho destacou que a redução do crescimento da população em idade ativa leva a repensar o que seria “alto crescimento” e estimou que um crescimento de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano seria suficiente para o Brasil alcançar a renda per capta de países como Coreia do Sul e Itália.

Coutinho afirmou ter “convicção” de que o Brasil tem condições de crescer nesse ritmo. “O País tem conjunto de fronteiras de crescimento que, quando comparada a outras economias, nos coloca em posição relativamente privilegiada”, disse o presidente do BNDES.

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Além disso, segundo Coutinho, os ajustes necessários na economia poderão criar oportunidades. “Essa necessidade (de ajustes) são outra oportunidade. Felizmente, a perspectiva para o câmbio, no médio prazo, é estimulante, porque permitirá criar consistência para um processo de reindustrialização”, disse Coutinho, durante a palestra.

O presidente do BNDES disse que os ajustes são necessários após reconhecer que “temos desequilíbrios que vieram do ciclo recente de crescimento”. “O ciclo recente teve virtudes relevantes. A mais relevante foi um intenso processo de distribuição de renda, que gerou pressão sobre serviços públicos”, afirmou Coutinho.

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Além do câmbio, outro desequilíbrio que pode ser uma oportunidade ao ser corrigido são os investimentos em infraestrutura, ressaltou Coutinho. “Talvez o ciclo de crescimento não tenha sido tão satisfatório em termos de crescimento nos investimentos em infraestrutura. O investimento total aumentou, mas não tanto quanto gostaríamos”, reconheceu o presidente do BNDES. “Precisamos acelerar os investimentos em infra, que abre a oportunidade de desenvolver cadeias supridoras”, completou.

Congresso

Luciano Coutinho afirmou que, com o pacote fiscal anunciado nesta segunda-feira, 14, o governo propôs uma saída que deve ser ponderada com toda a sociedade. “É muito importante virar a página do ajuste e pensar em reformas de médio prazo”, disse, referindo-se tanto a reformas para equilibrar as contas públicas quanto para impulsionar o crescimento.

Coutinho comentou que a alíquota de 0,2% para a nova CPMF, como proposta pelo governo, “minimiza os impactos” sobre a sociedade e destacou a importância do Congresso, na aprovação das medidas. “Espero que o Congresso possa cumprir com sua missão de ajudar o País.”

Aportes

No contexto do anúncio de um pacote fiscal para evitar, em 2016, mais um déficit primário nas contas públicas, o presidente do BNDES ressaltou que a instituição de fomento não receberá aportes do Tesouro Nacional para compor seu “funding” neste ano.

“Esperamos ultrapassar 2015 apertados, porém, honrando todos os nossos contratos, sem aporte”, afirmou, ao deixar a abertura da Sessão Especial do Fórum Nacional.

Segundo Coutinho, isso será possível “graças ao esforço de redução de cobertura em TJLP”, porque o banco recebeu recursos de outras fontes e porque está havendo uma redução nos valores contratados neste ano. No primeiro semestre, o BNDES liberou 18% menos para empréstimos já aprovados.

“Teremos uma expressiva redução (nos desembolsos), mas não sei se será de 20%”, completou Coutinho, ao responder sobre as projeções para os desembolsos no ano.

Segundo a assessoria de Coutinho, o presidente do BNDES tinha pressa para tomar um voo para Brasília.