O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, evitou anunciar qualquer medida, mas afirmou que o presidente em exercício, Michel Temer, colocou corretamente a possibilidade de cortar R$ 30 bilhões do orçamento. “É possível, mas eu não estou anunciando essa medida, nós não estamos descartando nada”, afirmou durante conversa com alguns jornalistas na manhã desta quarta-feira, 18.

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Tecendo elogios a Temer, Meirelles afirmou que o presidente é sempre “muito preciso no que coloca e no que pode ser adotado”, mas lembrou que sua equipe chegou há pouco ao governo e que ainda não teve tempo de tomar as decisões. “O Mansueto (secretário de Acompanhamento Econômico) começou a trabalhar ontem (17), estava procurando sala. O Carlos Hamilton (secretário de Política Econômica), apesar de estar me ajudando, começou a trabalhar ontem. Todos estão trabalhando intensamente”, disse.

Durante todo o encontro, o ministro afirmou que evitará fazer anúncios para agradar ou diminuir a euforia do mercado financeiro. “Não enfraqueceremos medidas com o anúncio precipitado para satisfazer analistas, jornalistas, banqueiros”, frisou.

Consciente do desafio, Meirelles afirmou que não há dúvidas de que o trabalho será difícil. “Seria surpreendente que fosse fácil reverter uma trajetória de crescimento da despesa e das dívidas e algumas questões estruturais”, afirmou. O dirigente da Fazenda ressaltou ainda que, após esse diagnóstico que está tentando fazer das contas públicas, será necessária uma conversa geral com o presidente Temer e com ministros para, a partir daí, iniciar o anúncio de medidas.

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Congresso

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Na avaliação de Meirelles, após uma análise realista das contas públicas, será possível mostrar para o Congresso o que é necessário para garantir que a dívida pública seja sustentável ao longo do tempo, aumente a confiança, investimentos e a renda. “Minha expectativa é de ter apoio. Tenho a expectativa de que teremos apoio e que vamos propor as medidas necessárias”, disse.

Mais uma vez, o novo dirigente da Fazenda ressaltou a necessidade de medidas estruturais, mas ressaltou que pretende fazer esses anúncios de forma calma e de acordo com a necessidade. “Enfraquecer essas medidas com anúncios precipitados para satisfazer a ansiedade de todos, favorece o enfraquecimento da capacidade de conduzir processo”, ressaltou antes de falar uma habitual frase que tem usado nos últimos dias: “Vou devagar porque estou com pressa”.

O ministro se mostrou confiante na retomada da economia e ressaltou que, em conversas, já recebeu relatos de que as pessoas estão voltando, aos poucos, a comprar e circular em lojas. “Já existem sinais da reversão de confiança. O comércio vê maior número de pessoas, existe expectativa positiva e é importante que seja confirmada”, afirmou.

Petrobras

O novo ministro da Fazenda disse que mantém a Petrobras no seu radar, mas não vê a necessidade de uma capitalização à estatal. Ele destacou a emissão de terça-feira pela companhia de US$ 6,75 bilhões em títulos de dívida com vencimentos de cinco e dez anos. “Ontem houve emissão e estamos acompanhando de perto. Temos contato constante com as pessoas envolvidas na operação e houve uma demanda bem maior do que a oferta”, revelou.

Meirelles evitou falar sobre a substituição de executivos no comando da Petrobras. Mas, questionado por jornalistas, classificou o diretor da área financeira e de relacionamento com investidores da companhia, Ivan Monteiro, como excelente profissional. Novamente provocado ao final da entrevista, o ministro elogiou ainda o ex-ministro da Casa Civil Pedro Parente, cotado para assumir a petrolífera.

Eletrobras

O ministro da Fazenda disse também que o governo está olhando “com detalhe” a situação financeira da Eletrobras e estuda estimativas para o tamanho da capitalização que será necessária à estatal.

“Como em todos os demais casos, temos que adotar uma estimativa realista para a Eletrobras. Temos um grupo de trabalho na Fazenda com Ministério de Minas e Energia e outras áreas do governo para olhar com detalhe a empresa. Em um determinado momento, temos que fazer uma estimativa de qual é a necessidade provável de capitalização”, afirmou.

Desde a semana passada, o ministro do Planejamento, Romero Jucá, tem falado sobre um rombo de até R$ 40 bilhões na Eletrobras, como resultado da possível deslistagem dos papéis da empresa na Bolsa de Nova York. Mas, segundo Meirelles, como permanecerá uma margem de incerteza sobre o volume do aporte necessário, o governo deve adotar um valor como hipótese de trabalho. “Você pode até dizer que acha que a projeção está pessimista ou otimista, mas vamos discutir de forma transparente”, acrescentou.