Foto: Valquir Aureliano/O Estado

 André Carioba Filho: "Não quero ter surpresas".

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O sacrifício sanitário do rebanho da Fazenda Cachoeira, dado praticamente como certo, pode gerar um outro transtorno: onde enterrar as quase 2 mil cabeças de gado? Segundo o proprietário da fazenda localizada em São Sebastião da Amoreira, André Carioba Filho, a área de confinamento é próxima a mananciais de água e ao lençol freático. O risco, afirmou, é que a decomposição dos animais contamine a água que abastece a fazenda.

?Serão mais de 700 toneladas de carne, e o risco de contaminação é muito grande. No ano que vem, eu não quero ter surpresas de órgãos ambientais dizendo que não posso utilizar esta água?, apontou. A água, segundo ele, é usada tanto na agricultura como pelos funcionários que trabalham na fazenda, que somam aproximadamente 70 pessoas.

?É uma área de confinamento, e não há como enterrar boi aqui. Em outra área também não pode porque é destinada à agricultura e há ainda a área de reserva florestal (por lei, 20% da área total da propriedade)?, afirmou. A Fazenda Cachoeira tem cerca de 1,4 mil alqueires. ?Na minha visão, não pode (enterrar). A não ser que o IAP (Instituto Ambiental do Paraná), o Ibama e a secretaria da Agricultura se responsabilizem. Mas quero tudo assinado e documentado?, ressaltou.

Frustração

Carioba Filho disse estar frustrado com o resultado da reunião realizada na terça-feira em Curitiba, entre representantes da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) e o Ministério da Agricultura. No encontro, o ministério recomendou o sacrifício sanitário dos animais, mas o governo estadual disse que só tomaria a decisão no dia 11 de janeiro, juntamente com as entidades que fazem parte do Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária (Conesa).

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?Não houve uma conclusão, e eu precisava de uma resposta concreta sobre o que vai ser feito. Inclusive, para que eu pudesse questionar na Justiça?, afirmou. Mesmo assim, Carioba disse que pretende entrar na Justiça – ainda antes do dia 11 de janeiro -, alegando que não há ração suficiente para o gado até lá e solicitando uma avaliação comercial dos animais a serem sacrificados.

?Até agora não entrei na Justiça. Estava aguardando o posicionamento da reunião e, para nós, o resultado era crucial para o embasamento jurídico?, apontou. Cerca de 1,5 mil animais da Fazenda Cachoeira, segundo ele, estão prontos para o abate desde o último dia 10. Em valores, o pecuarista deixou de faturar R$ 1,2 milhão. ?Tenho contas para pagar?, reclamou.

Favorável

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No que depender da opinião da maioria das 35 entidades que fazem parte do Conesa, o sacrifício sanitário deve de fato ocorrer. Entidades representativas do agronegócio paranaense, que formam o Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Paraná (Fundepec-PR) – entre elas a Associação Paranaense da Suinocultura, da Avicultura, além da Faep, Sindileite, Sindicarne, Ocepar e outras – já se manifestaram favoráveis ao sacrifício sanitário, o que permitiria que o Paraná voltasse a exportar dentro de seis meses.

Na outra ponta, a Sociedade Rural do Paraná (SRP), que também faz parte do Conesa, deve votar contra o sacrifício durante a reunião no próximo dia 11. ?A entidade não mudou a posição de ser contrária ao abate dos animais?, afirmou a SRP, através da assessoria de imprensa. ?Ela (entidade) vai lutar para que sejam feitos novos exames e contraprovas. Enquanto não houver confirmação técnica da febre aftosa, não vai apoiar o abate de animais que não estão doentes.? 

Ucrânia libera importações parciais de carne

O governo da Ucrânia liberou a importação de carnes brasileiras in natura, exceto as produzidas no Mato Grosso do Sul e Paraná, em razão dos focos de aftosa registrados no segundo semestre deste ano, informou ontem a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio (SRI) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Com isso, o Brasil já pode voltar a exportar o produto para aquele mercado e se habilitar a uma eventual licitação do governo ucraniano para repor os estoques oficias de carnes.

A decisão foi comunicada anteontem à Embaixada do Brasil na Ucrânia. O Vice-Diretor Principal de Medicina Veterinária daquele país suspendeu parcialmente a proibição à importação de carnes brasileiras in natura, em vigor desde 17 de novembro passado. De acordo com a SRI, a medida é resultado da atuação do embaixador Renato R. L. Marques, que vinha mantendo contatos com as autoridades ucranianas para ajustar as restrições à real situação epidemiológica do Brasil. Os técnicos da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio estavam acompanhando o desenvolvimento das negociações.

Ainda segundo a SRI, há informações de que o Comitê Estatal de Reservas Materiais da Ucrânia deverá adquirir carnes no exterior para repor o estoque estatal. No último dia 20, conforme fontes locais, o comitê pediu ao Gabinete de Ministros autorização para a compra do produto, tendo em vista que o volume de carnes bovina e suína corresponde a apenas 41% do planejado e que os produtores nacionais não poderão suprir essa necessidade.

A Secretaria de Relações Internacionais de Agronegócio considera a Ucrânia um importante destino para as carnes brasileiras bovina e suína in natura. Em 2004, as exportações de carnes in natura e industrializadas renderam ao Brasil US$ 88,9 milhões, representando 84,6 mil toneladas. No primeiro semestre deste ano, os embarques totalizaram US$ 23, milhões, o equivalente a 15,2 mil toneladas.