Diante do “gargalo da infra-estrutura”, que ameaça frear o crescimento econômico do País, toda e qualquer alternativa que promete driblar o problema é bem vinda. No Paraná, dois projetos de dutos – idealizados por dois profissionais distintos – estão ganhando a atenção dos principais interessados: os produtores rurais.
Um deles, desenvolvido pelo francês naturalizado brasileiro Michel Ouknine, prevê a construção de um grande duto com 2,5 metros de diâmetro e constituído, em seu interior, por faixas de rolamento ou trilhos. Destinado essencialmente para o transporte de grãos – que seriam colocados em caçambas sobre os trilhos – o duto poderia servir ainda para o escoamento de madeira, minério, entre outros. A estimativa é que o duto possibilite o escoamento de 864 mil toneladas de grãos por dia. “É o sistema capaz de mais carregar tonelagem”, garantiu o inventor do projeto, Michel Ouknine. “Isso significa que em poucos dias, a safra paranaense seria escoada.”
O projeto, idealizado por Ouknine, – ainda sem denominação específica – demorou dois anos para ficar pronto. Antes disso, o inventor, técnico em edificações, estudou todas as demais possibilidades, entre elas o teleférico – descartado pelo alto custo – e a malha ferroviária – que também requer investimentos, pois está em situação precária. “Temos uma malha ferroviária que não comporta o escoamento da safra, e para fazer outra, seriam necessários 3 a 4 milhões de dólares por quilômetro”, explicou.
Ouknine também analisou a correia transportadora – utilizada no Porto de Paranaguá e em algumas empresas privadas e cooperativas – e fez uma série de críticas. “A correia é feita de lona e borracha, que esquenta e pode afetar a qualidade dos grãos. Outro inconveniente é a baixa rotação: ela transporta no máximo 75 mil toneladas por dia”, afirmou. Para ele, à curta distância o sistema funciona bem. O problema, explicou, estaria em aplicar o sistema à longa distância, como entre Curitiba e Paranaguá. “É um sistema limitado, porque requer manutenção e tem muitas emendas”, falou. O gasto elevado com energia para manter o sistema funcionando é outro agravante citado por Ouknine.
US$ 100 milhões
Para viabilizar o projeto idealizado por Michel seriam necessários cerca de 100 milhões de dólares – cerca de um milhão de dólares o quilômetro, entre Curitiba e Paranaguá. Na prática, o duto deve funcionar com dois motores -um em cada ponta -, que precisaria de energia apenas para serem acionados. A partir daí, o sistema funcionaria por tração. Além disso, o projeto prevê a colocação de chassis ao longo do trilho. A idéia, explicou Ouknine, é que as caçambas desçam carregadas e também subam carregadas, se necessário. “Outra vantagem, é que o descarregamento poderia ser feito direto no navio, porque o sistema foi estudo para também ser flutuante.”
Michel garante que o projeto é viável. Ele conta que seu irmão Maurice, que mora em Marselha (França) e é cientista e físico, fez todos os cálculos necessários para concluir que o sistema de fato funciona e é eficaz.
Com o projeto no papel, Ouknine conta que agora está em busca de parceiros, interessados em financiar o sistema de transportes. “Em princípio, 100 milhões de dólares parecem muito. Mas se calcular o custo de um navio parado no porto (50 mil dólares por dia) e outras despesas, chega-se à conclusão de que o valor não é tão alto”, arrematou.
Ligação de Ponta Grossa a Paranaguá
Outro sistema que também vem sendo apresentado, dessa vez pelo Instituto Centro de Comércio Exterior do Paraná (Cexpar), é o cerealduto, projetado pela empresa alemã Beumer. O sistema, formado por uma esteira que recebe os grãos e se fecha automaticamente – formando um tubo impermeável – é movido sobre roldanas. De acordo com o presidente do Conselho do Cexpar, Ozeil Moura, a idéia é construir o cerealduto de Ponta Grossa – do complexo armazenador da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – até o Porto de Paranaguá, ou ainda de Curitiba para Paranaguá. “Estamos vendo ainda qual é a melhor opção”, afirmou.
Segundo ele, o projeto demandaria investimento de US$ 1,5 milhão a US$ 2 milhões por quilômetro – a previsão é que o cerealduto alcance extensão de 150 quilômetros. Na Europa, o sistema já funciona, mas transporta apenas minérios. “Estamos adaptando para o transporte de grãos”, explicou Moura. Além da soja, o sistema poderia transportar ainda milho e arroz.
Toda a estrutura do cerealduto, destacou Ozeil Moura, seria construída no Brasil, com exceção da esteira, que seria importada da Alemanha. O sistema – com diâmetro do tubo de 80 cm – prevê o transporte de 3 mil toneladas de grãos por hora, o que corresponderia ao transporte de 60 mil toneladas por dia. Entre as vantagens do sistema, Moura cita a capacidade de levar grãos para o Porto de Paranaguá e, em seguida, trazer fertilizantes de volta a Curitiba ou Ponta Grossa. Ele garante ainda que, apesar de o material ser feito de borracha – que pode esquentar -, o grão transportado não perde a qualidade. “Há um resfriamento natural. A temperatura é ainda menor do que se o grão viesse por caminhão”, reforçou. O sistema também não demandaria muita energia elétrica, alegou, uma vez que ele produziria a própria energia.
Segundo Moura, o projeto está em fase bastante adiantada. Cooperativas e empresas como a Bunge e a Cargill já se mostraram interessadas. Ele garantiu ainda que o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já se manifestaram favoráveis. A idéia é que, uma vez aprovado, o projeto leve cerca de dois anos para ser construído. (LS)