Em meio ao abalo na imagem do Brasil causado pelos incêndios da Amazônia, um grupo de criadores de gado da região do Araguaia, em Mato Grosso, decidiu criar uma associação nacional para gerar valor à pecuária sustentável. Encabeçada pela empresária Vivien Suruagy, os pecuaristas querem provar que a atividade integrada à lavoura e à floresta é altamente sustentável, não poluidora, e pode dar valor à cadeia da carne.
À frente da Associação Brasileira de Produtores de Carne Carbono Neutro e Baixo Carbono (ABCNN), Vivien, que é engenheira civil e também atua no setor de telecomunicações, reuniu um grupo de pecuaristas para combater o preconceito ao produtor brasileiro, em um momento que as questões ambientais estão nos holofotes. Há um forte temor do setor de sofrer boicotes de países importadores, sobretudo da Europa.
“Nosso objetivo é mostrar que essas diversas mentiras que estão sendo faladas sobre o Brasil são cercadas por interesses econômicos, mas que não correspondem à realidade”, disse a empresária, referindo às acusações dos países europeus de que os agricultores brasileiros são responsáveis pelo desmatamento ilegal da Amazônia.
Vivien reconhece que há práticas ilegais, sobretudo de grileiros, e de parte do setor, mas que os pecuaristas que adotam práticas sustentáveis não podem ser penalizados por isso.
Criada em setembro, a entidade está, neste momento, preparando seu plano estratégico de atuação, e deve começar a arregimentar pecuaristas que se identificam com as práticas sustentáveis. “Queremos mostrar para o mundo que nós preservamos, não somos poluidores.”
Adesão
Vivien também faz parte do grupo de pecuaristas da Liga do Araguaia, criada em 2015, região do Centro-Oeste que ficou conhecida por muito tempo como “Vale dos esquecidos”. Presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, Caio Penido, coordenador da Liga do Araguaia, tem participado ativamente de discussões sobre como valorizar a pecuária brasileira.
“A liga surgiu em 2015, às vésperas da Olimpíada. O setor sempre sofreu muitas críticas e o produtor sempre se sentiu injustiçado. Entendemos que a nossa atividade deveria carregar essa biodiversidade em forma de valor, com algum benefício econômico.”
Penido pontua que em países do Hemisfério Norte os criadores compram a área produtiva sem um comprometimento de preservar floresta. “Aqui no Brasil, os produtores brasileiros têm todo um custo de manutenção, com engenheiros ambientais, para manter essa diversidade. E isso tem de ser colocado na conta. Esse deveria ser o nosso diferencial”, disse.
Levantamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostra que o País preserva 66,3% do território agrícola na forma de matas e florestas nativas – um total de 563 milhões de hectares protegidos. A Embrapa criou um selo, o Carne Carbono Neutro (CCN), uma marca que atesta a carne bovina produzida em sistemas de integração pecuária-floresta e lavoura-pecuária e floresta, e está em fase de desenvolver a metodologia de certificação.
Projeto de lei
No calor das discussões ambientais por conta dos incêndios na Amazônia, o deputado federal Arnaldo Jardim, do Cidadania, conseguiu aprovar na Câmara, há um mês, o projeto de lei número 312, de 2015, proposto pelos deputados Rubens Bueno e Arnaldo Jordy, que tem como objetivo premiar as ações voltadas à preservação do meio ambiente.
“O Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) abre caminho para que se reconheçam boas práticas ambientais e sejam assim remuneradas”, disse o deputado ao jornal O Estado de S.Paulo. “O desafio será agora no Senado. Estamos batalhando para que a aprovação ocorra ainda este ano.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.