Doze fazendas que pertenceram à empresa Boi Gordo, que faliu após a criação de um sistema de investimentos em animais, irão a leilão no dia 14 de dezembro, com um deságio de 90%. Avaliadas inicialmente em R$ 177 milhões, as propriedades que somam 53 mil hectares, devem ir à leilão com um valor mínimo de R$ 18 milhões.
Esse foi o maior valor oferecido no último leilão das propriedades, mas uma decisão do juiz da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, Marcelo Sacramone, determinou um novo leilão para que outros proponentes possam oferecer lances.
Para o magistrado, a decisão garante a possibilidade de melhorar a proposta já estabelecida. “Determino a publicação de novo leilão, com valor mínimo da proposta oferecida nos autos. Caso não sejam dados novos lances, o proponente será dado como vencedor”, sentenciou. As fazendas ficam na região de Comodoro, no oeste do Mato Grosso. Entre as áreas, estão terras com pastagens e cultivos de soja e milho que podem ser pagas com a renda das propriedades, em cinco parcelas semestrais.
O leilão terá formato híbrido – presencial e on-line. A habilitação para participar do certame, que está aberto desde o último dia 11, exige uma caução de R$ 200 mil. De acordo com o leiloeiro oficial Cezar Augusto Badolato, da Lut Leilões, encarregada de vender a massa falida da Boi Gordo, o arrematante deve pagar, em até 48 horas, 20% do valor do lance, mais os 4,5% de comissão. “Depois, vêm as parcelas, que têm vencimento semestral”, explicou.
Uma mudança de estratégia nos leilões dos bens da empresa passou a atrair o interesse dos compradores, o que animou os credores. Com base no novo Código de Processo Civil, o juiz tem dado com rapidez as imissões na posse das áreas arrematadas, permitindo ainda o fracionamento das áreas maiores. Isso, aliado à modalidade híbrida do leilão, permitindo lances on-line, conseguiu atrair investidores de todo o Brasil, muitos deles com propostas que superam em mais de 100% o valor estipulado como lance inicial. “O leilão on-line e presencial atinge um número maior de interessados e traz mais transparência nas execuções”, disse Badolato.
Bois de papel
A Fazendas Reunidas Boi Gordo faliu em 2004, oito anos depois de ter iniciado um processo de abertura de investimentos em gado com a promessa de, em 18 meses, dar um lucro de 42% a quem fosse detentor dos bois gordos. Mais de 30 mil investidores descobriram, depois, que eram donos de “bois de papel”, ou seja, o gado existia apenas nos contratos. O modelo foi comparado ao de uma “pirâmide financeira”. O valor do rombo chegou a R$ 4,2 bilhões.
O promotor de Justiça que atua no caso, Eronides Santos, da Promotoria de Falência do Ministério Público de São Paulo, lembra que o grupo “adotou uma estratégia de marketing multinível, com inserções em toda a mídia, inclusive com mensagens subliminares”. O grupo alegava que o gado tinha genética sofisticada, resultado de estudos científicos que não aconteceram. Segundo o promotor, muitos investidores acreditaram na propaganda sem investigar a idoneidade do investimento e puseram altos valores no negócio.
Desde que foi iniciado, na Justiça, o processo de recuperação do dinheiro investido pelos credores, foram vendidas mais de 30 fazendas, perfazendo 130 mil hectares, tendo sido levantados cerca de R$ 470 milhões, segundo o administrador judicial da massa falida, Gustavo Sauer.
Desse dinheiro, R$ 75 milhões foram usados para pagar os credores trabalhistas. No início do próximo ano, serão pagos o passivo tributário e os credores com garantia real. Também no início de 2018, os investidores em contratos devem receber cerca de 10% do valor atualizado dos seus créditos. Sauer acredita que, no leilão do dia 14, as propriedades do Mato Grosso irão atingir o dobro do lance inicial, já que as terras são boas e estão prontas para produzir renda.