O empresário Cesar de Araujo Mata Pires, dono da OAS, uma das empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobrás, morreu na quarta-feira, 22, vítima de um enfarte. Pires, que tinha 67 anos, passou mal durante uma caminhada pelo bairro do Pacaembu, em São Paulo. O empresário chegou a ser levado ao Hospital das Clínicas, onde recebeu atendimento, mas não resistiu. O velório será realizado hoje no cemitério Gethsemani.

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Conhecido no mercado como Dr. Cesar, o empresário deixou a mulher Tereza Mata Pires e três filhos. Engenheiro civil formado pela Universidade Federal da Bahia, em 1971, Pires trabalhou no início de sua carreira no conglomerado baiano Odebrecht, também envolvido em escândalos de corrupção. Em 1976, fundou a OAS com outros dois sócios – Durval Olivieri e Carlos Suarez, que saíram do negócio anos depois.

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A sigla que deu origem ao nome do grupo baiano – Olivieri, Araújo e Suarez (OAS) – ganhou maior peso ainda nos anos 1970, quando Pires se casou com Tereza, filha do então governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, o ACM, e passou a disputar com a concorrente Odebrecht obras públicas no Estado.

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Nas últimas semanas, a OAS – que entrou com pedido de recuperação judicial em 2015 – está acertando os últimos detalhes para uma nova colaboração premiada, que envolveria ao menos 20 pessoas, entre executivos e acionistas da construtora. Entre os possíveis delatores estariam dois dos três filhos do empresário: Antonio Carlos Mata Pires e Cesar Mata Pires Filho. Procurado, o advogado do grupo OAS, José Luis de Oliveira Lima, conhecido como Dr. Juca, não quis se pronunciar. Já o grupo OAS, em nota, confirmou a morte do fundador e presidente do Conselho de Administração da empresa, sem dar mais detalhes sobre os negócios da companhia.

Até então, o nome por trás da delação da OAS esteve concentrado no empreiteiro José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido por Léo Pinheiro, dono de 10% do grupo, que foi preso na Lava Jato e começou a fazer as primeiras denúncias que envolvem o governo petista. Nas delações da OAS, Léo Pinheiro afirmou que a empreiteira fez a reforma de um triplex no Guarujá, litoral sul paulista, que seria destinado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e também ajudou na reforma do sítio que estaria ligado ao ex-presidente em Atibaia, no interior de São Paulo.

Tensões pré-delação

Nos últimos meses, o empresário estava afastado dos amigos e em tratamento de saúde. Segundo uma pessoa próxima a Pires, o empresário teve isquemia cardíaca e estava tratando de complicações decorrentes de um câncer. Sob tensão nas últimas semanas por conta do novo acordo de delação em negociação com a Procuradoria-Geral da República, que teria a colaboração de seus dois filhos, o empresário estava concentrado no acordo que está sendo costurado.

Focado em sua carreira, Pires colecionou alguns – e importantes – desafetos ao longo dos últimos anos. Um deles, com seu próprio sogro – Antonio Carlos Magalhães (ACM), que ajudou a expandir os negócios da OAS nos anos 1970. Uma fonte próxima a Pires afirmou que a sigla que leva o nome do grupo baiano era conhecida por “Obrigado, Amigo Sogro”, nos anos 1980, pelas constantes ajudas do ex-senador da República à empreiteira.

A relação entre Pires e ACM começou a se complicar no fim dos anos 1990, após a morte de Luís Eduardo Magalhães, que era tido como o herdeiro político de ACM, de acordo com outra pessoa que foi próxima a Pires. Em 2008, um ano após a morte de ACM, Pires e sua mulher, Tereza, se desentenderam com boa parte dos herdeiros da família, questionando a herança do político.

Temperamento forte

A relação entre ACM e Pires era de embate nos últimos anos, disse essa fonte ao Estado. O empresário também chegou a ter pretensões políticas, mas teria sido preterido pelo sogro.

Focado na carreira, o empresário também chegou a se desentender com seus sócios – Olivieri e Suarez -, que deixaram o grupo. No dia a dia, colecionou desafetos com empresários empreiteiros e com políticos.

O grupo OAS cresceu nos últimos anos e se internacionalizou. A construtora foi diversificando seus negócios ao longo dos últimos anos – chegou a construir estádios para a Copa do Mundo, plataformas de petróleo offshore e rodovias, com obras na América Latina, África e Oriente Médio.

No auge, em 2014, o patrimônio do grupo chegou a US$ 7 bilhões. O empresário passou a figurar como um dos bilionários da lista da Forbes, mas viu sua fortuna derreter meses depois de as denúncias de corrupção da companhia na Lava Jato virem à tona. Com bom trânsito em Brasília, a empresa foi uma das maiores colaboradoras de campanhas políticas e em 2010 ganhou um contrato de 15 anos para fornecer cinco navios-sonda à Petrobrás. A OAS também fechou contratos para atuar em refinarias da Petrobrás, incluindo a Abreu e Lima, em Pernambuco.

Derrocada

A empreiteira entrou com pedido de recuperação judicial em 2015, com dívidas de R$ 9,2 bilhões. Demitiu mais de 15 mil trabalhadores e tentou vender joias da coroa, como a fatia de quase 25% Invepar, administradora do aeroporto de Guarulhos, em sociedades com os fundos de pensão – Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa) e Petros (Petrobrás), para a gestora canadense Brookfield, mas o negócio não avançou.

Agora, o grupo negocia pesadas dívidas com credores e tenta fechar acordo para recuperar o pouco que restou da empresa.

Em meio essa crise, o empresário estava recluso e mantinha uma relação distante com os poucos amigos de seu convívio mais íntimo.

Ontem, ao passar mal durante a caminhada, foi socorrido pelo Samu e foi levado para o Hospital das Clínicas. A família ainda tentou levá-lo a um hospital particular, mas não teve tempo. Fontes da polícia, ouvidas pelo Estado, disseram que o Boletim de Ocorrência registrou o falecimento do empresário como “morte a esclarecer”, uma vez que houve lesão durante a queda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.