São Paulo – A volatilidade deu o tom dos negócios de ontem com o dólar, que terminou o dia em alta de 0,43%, cotado a R$ 3,008 na compra e R$ 3,013 na venda. Num grande teste ao patamar dos R$ 3,00 a cotação de venda chegou a cair para R$ 2,983 (-0,56%), mas não se sustentou. Remessas ao exterior e reposição de posições, associadas à baixa liquidez, favoreceram o ritmo de montanha russa. O C-Bond sofreu realização de lucros expressiva e também pressionou o câmbio.

Operadores afirmam que a volatilidade dificultou muito o trabalho, principalmente à tarde. Mesmo com o cenário interno positivo e os ingressos de dólares ao país, tesourarias bancárias e empresas com dívidas no exterior aproveitaram a cotação mais baixa dos últimos oito meses para voltar a comprar dólares. Pela manhã, o destaque de venda ficou com um banco nacional que trazia recursos de captação externa recente. À tarde, uma instituição estrangeira freqüentemente associada à especulação foi destaque na ponta compradora, gerando volatilidade dentro da tendência altista.

Apesar da resistência à barreira dos R$ 3,00, analistas ainda apostam na queda do dólar no curto prazo. A previsão leva em conta os bons resultados da balança comercial e as captações, que continuam a ocorrer. Nesta quinta, um dos destaques foi o superávit nas transações internacionais de US$ 116 milhões em março. No acumulado do primeiro trimestre, o saldo é positivo pela primeira vez em dez anos (US$ 82 milhões).

– A taxa de câmbio atual não é ruim, mas há espaço para o rompimento da barreira dos R$ 3,00 nos próximos dias. O mercado encontrou na queda do C-Bond e na conseqüente alta do risco-país um pretexto para recompor posições, mas isso não significa inversão de tendência – disse Francisco Gimenez Neto, diretor da corretora NGO.

Gimenez, como vários outros analistas, aposta que a taxa de câmbio pode cair para entre R$ 2,90 e R$ 2,80 no curto prazo. O patamar não levaria em conta intervenções do Banco Central ou movimentos espontâneos, como aumento de importações ou inquietações no cenário político. A queda do risco-país para menos de 900 pontos, salienta, deve continuar favorecendo captações externas, de prazos possivelmente superiores a um ano.

O C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, caiu 0,65% no final da tarde, cotado a 85,81% do seu valor de face. O risco-país, por sua vez, subiu 2,82%, a 875 pontos-base. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), as taxas de juros acompanharam a trajetória do dólar, sem grandes ajustes à decisão do Copom de manter os juros básicos da economia inalterados.

A notícia da redução dos preços dos combustíveis ajuda a manter o mercado de juros otimista quanto à probabilidade de desaceleração significativa da inflação, que abriria espaço para uma queda da taxa Selic, ontem de 26,50% ao ano. O Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2004, o mais negociado na BM&F, fechou projetando taxa anual de 24,85%, contra 24,68% do fechamento de anteontem.

Bolsa

A bolsa de valores de São Paulo fechou as operações esta quinta-feira com uma forte baixa de 2,21% em relação à véspera, e com o indicador dos principais negócios, o Bovespa, recuando a 12.120 pontos.

Esse mesmo indicador apresentou uma queda de 0,46% na véspera.

Governo fará intervenções “pontuais”

O chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda, afirmou ontem que quando o governo conseguir “dissolver a bolha inflacionária”, o Banco Central poderá promover “intervenções pontuais” no mercado de câmbio. “O câmbio não vai flutuar tão livremente”, disse o economista, argumentando que a volatilidade do câmbio não é boa nem para os exportadores.

“É melhor ter um dólar a R$ 3,05 do que uma flutuação exagerada”, comparou Miranda, ressaltando que esse valor é apenas um exemplo e não um patamar pretendido pelo governo. Segundo ele, as projeções para 2003 são de uma taxa de câmbio média de R$ 3,33 por dólar, o que garantiria um superávit comercial de US$ 16 bilhões “para cima”.

Para o chefe da assessoria econômica do Planejamento, a política atual do governo tem por objetivo dissolver a “bolha inflacionária” provocada pela depreciação do ano passado. Segundo ele, a reversão desse processo não é trivial, porque leva mais tempo para a apreciação surtir efeito sobre a inflação do que a depreciação em sentido contrário.

Conforme Miranda, o Brasil se transformou na coqueluche do capital financeiro de curto prazo por conta da falta de interesse pelos mercados da Turquia, da Rússia e da Ásia após os primeiros sinais de que haveria a Guerra do Iraque. Além disso, o País tem ativos de alta qualidade com baixíssimo valor e taxas de juros elevadas para os padrões internacionais, o que o torna extremamente atrativo. “As ações da Petrobras estão ridiculamente baratas”, afirma Miranda.

continua após a publicidade

continua após a publicidade