Dólar valorizado atrai estrangeiros para compra de ativos de cias brasileiras

As empresas brasileiras deverão recorrer neste ano à venda de ativos não estratégicos, fora do negócio principal, para buscarem liquidez e garantirem eficiência em um ano de fontes mais restritas ao crédito. Esses ativos deverão atrair investidores, em especial os estrangeiros, que ainda estão buscando oportunidades no mercado brasileiro, mesmo diante da estagnação da economia local e da crise envolvendo a maior empresa brasileira, a Petrobras. Segundo especialistas, o dólar mais valorizado em relação ao real, na máxima em dez anos, também vem contribuindo para aumentar a atratividade para a entrada no Brasil, a despeito do cenário atual.

Com a expectativa de queda para os preços dos ativos, tanto investidores estratégicos como os financeiros estão olhando oportunidades, o que deve manter os patamares de fusões e aquisições (M&A, a sigla em inglês) elevados ao longo de 2015 no Brasil, mas o cenário é de cautela com grande aversão a setores regulados, os quais devem afastar os investimentos neste ano.

Victor Báez, sócio da consultoria especializada em gestão e reestruturação de empresas Heartman House, diz que tem aumentado o número de consultas vindas de companhias que estudam a venda de uma fatia do negócio. “Deverá ter muita movimentação no segundo semestre”, afirma. Báez destaca que os investidores estrangeiros, com visão de longo prazo, seguem analisando oportunidade de entrada no Brasil, mas que existe cautela e que muitos estão, neste momento, tentando entender o caso de corrupção envolvendo a Petrobras.

Mesmo nesse cenário, apenas neste mês, a butique de fusões e aquisições Saint Paul Advisors foi procurada duas vezes sobre transações desse perfil. “Empresas vendem ativos não estratégicos em momentos mais desafiadores. Elas o fazem para levantar caixa quando o mercado de capitais não está disponível ou está muito caro. Em outros casos, as empresas vendem ativos não estratégicos para focar nas atividades mais relevantes buscando otimizar recursos humanos e financeiros”, afirma o sócio da consultoria José Securato.

Valdo Cestari de Rizzo, especialista em direito empresarial e sócio do Lobo & de Rizzo Advogados, conta que empresas também estão buscando parceiros para seguir com projetos de investimentos. O advogado diz que o escritório trabalhou recentemente com uma companhia que estava se estruturando para realizar dois grandes empreendimentos sozinha, mas que acabou realizando um road show para buscar um parceiro e acabou, no final, atraindo investidores estrangeiros. “Ela se capitalizou com o intuito de mobilizar menos capital. Com o crédito mais caro e escasso, essa é uma alternativa”, afirma.

Precificação

O líder de Private Equity da EY (antiga Ernst & Young), Carlos Asciutti, diz que a venda de participações e ativos motivadas pela necessidade de levantar caixa deve, de fato, movimentar as transações de fusões e aquisições neste ano, mas destacou que os investidores que ainda não estão presentes no Brasil devem manter a intenção de ingressar no Brasil em compasso de espera. Segundo Asciutti, neste momento de alta volatilidade, os negócios contam com uma dificuldade adicional que é peça chave quando se fala de fusões e aquisições: a precificação dos ativos.

Já o sócio da Landmark Capital, Gianni Casanova, destaca que tem observado o interesse das empresas em sair de ativos fora do centro do negócio e que esse movimento tem chamado a atenção inclusive de multinacionais que querem aumentar a atuação no Brasil. “Há empresas que estão presentes em apenas uma linha de negócio e que estão procurando adquirir outras”, afirma. Segundo Casanova, os investidores estrangeiros estão, de certo, mais otimistas na comparação com os locais, mas que essa característica também tem como explicação o fato de que esses investidores analisam o risco sob o prisma de uma geografia mais extensa, o que acaba permitindo maior tolerância ao risco.

Asciutti, da EY, acredita que a chegada de novos investidores estrangeiros ao Brasil deve ganhar novo impulso diante de mudanças regulatórias no Brasil, como a possibilidade do ingresso de capital estrangeiro em hospitais, por exemplo. Ricardo Gaillard, sócio do Souza, Cescon, Barrieu, & Flesch Advogados, explica que a lei publicada em janeiro flexibilizou o investimento direto estrangeiro em hospitais e clínicas de saúde e que isso abrirá as portas para investidores que, em muitos casos, já tinham interesse de investir na área. “Em termos imediatos há grande interesse de grupos para começar a olhar os hospitais. No fim do dia essa acaba sendo uma nova forma de essas empresas se capitalizarem”, avalia.

Segundo dados divulgados nesta semana pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), as aquisições de brasileiras por estrangeiras cresceram tanto em número (de 30,4% para 45,9%) quanto em volume (de 33,5% para 50%).

Olhar do estrangeiro

Richard Ziliotto, sócio da family office Taler, destaca que o investimento financeiro do estrangeiro segue em alta, fator evidenciado pelo fluxo de entrada de capital na Bolsa brasileira neste ano. No acumulado do ano, até o dia 10 de fevereiro, há um superávit de recursos estrangeiros de R$ 2,961 bilhões na Bovespa.

“Para o estrangeiro a nossa bolsa está interessante depois da forte reprecificação dos ativos e do real desvalorizado. O investidor estrangeiro olha essa reprecificação e coloca algumas fichas”, destaca Ziliotto. O especialista diz que o investidor estrangeiro tem a percepção de que uma queda futura dos juros no Brasil significará valorização de ações.

Fabiane Goldstein, sócia da consultoria MBS Value Partners, conta que o estrangeiro está sim olhando para o Brasil, especialmente aquele com perfil de mais longo prazo. Segundo ela, a percepção é de que há oportunidades para entrada em bolsa, mas estatais e setor regulados estão no momento fora do radar desses investidores.

Além da entrada no mercado de renda variável, a elevada taxa de juros também tem funcionado como um grande holofote para atrair o capital externo, afirma Adriano Moreno, presidente da AZ FuturaInvest. “O relaxamento monetário na Europa, com liquidez mais farta no mercado, sem dúvida, irá ajudar para a entrada de capital para dentro do País”, destaca.

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