O dólar acumulou uma queda de 1,27% nesta semana, com o esfriamento da crise política e a menor percepção de risco dos investidores estrangeiros em relação aos países emergentes. Ontem a moeda dos EUA caiu 0,62%, cotada a R$ 2,871, menor valor desde 27 de janeiro passado e a maior queda percentual do mês.
A pressão sobre o dólar, que predominou em fevereiro, se dissipou no começo de março. O Banco Central completou ontem um mês de “jejum” no mercado de câmbio. Desde o dia 5 de fevereiro, o BC não promove leilões para a compra de divisas – plano anunciado no começo de janeiro e que visava recompor as reservas cambiais.
A suspensão dos leilões ocorreu após a moeda superar R$ 2,90 e a eclosão da crise política desencadeada pelo caso Waldomiro Diniz. Como o volume de negócios caiu, um sintoma da cautela dos investidores, o BC preferiu evitar uma atuação no mercado de câmbio, gerando mais volatilidade nos preços.
A calmaria no mercado de câmbio foi favorecida hoje pela perspectiva de que os investidores estrangeiros vão continuar migrando seus recursos para papéis de países emergentes, como o Brasil.
Essa percepção foi fortalecida pelo dado de criação de empregos de fevereiro nos EUA, que veio bem abaixo do esperado pelos analistas. Isso significa que a economia americana ainda cresce num ritmo insuficiente para a recuperação do mercado de trabalho.
Em outras palavras, o Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) deve manter o juro em 1% ao ano pelo menos até o final do ano. Juros baixos nos EUA representam menores retornos para as aplicações. Isso é a senha para o grande investidor comprar papéis de países emergentes, que apresentam maior risco, mas também rendimento elevado.
O C-Bond, principal título da dívida externa brasileira e um dos principais papéis do mercado emergente, subiu hoje mais de 1%. O risco brasileiro recuou quase 2%.
Esboça-se ainda no mercado uma vontade de apostar em corte de juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deste mês. Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o contrato que estima o juro para a virada do mês saiu da estabilidade dos últimos dias e deu um leve recuo, projetando 16,15% ao ano, ainda acima da Selic de 16,5%, mantida pelo Copom em janeiro e fevereiro.
Com a trajetória de queda da divisa rumo ao patamar de R$ 2,85, os investidores começam a cobrar a volta das intervenções do BC para evitar uma baixa exagerada das cotações. O dólar barato tende a reduzir os lucros do setor.
Para a AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), os exportadores só começam a perder dinheiro com a taxa abaixo de R$ 2,80. Mas a associação lembra que a demanda interna da economia ainda está muito fraca, não restando outra alternativa para as empresas a não ser a exportação dos produtos.
Para a associação, a queda do dólar ainda não provocou prejuízos no desempenho das exportações porque os preços das commodities estão em patamar elevado.