Após uma manhã marcada por instabilidade, o dólar perdeu força ao longo da tarde desta sexta-feira e se firmou em território negativo, na casa de R$ 4,15, em meio a ajustes técnicos típicos de fim de mês. No exterior, o dia foi de fortalecimento da moeda americana em relação à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, na esteira da aversão ao risco provocada por temores de recrudescimento da guerra comercial entre China e Estados Unidos.

continua após a publicidade

Entre mínima de R$ 4,1458 e máxima de R$ 4,1675, a moeda americana encerrou o pregão em queda de 0,17%, a R$ 4,1552. Com as perdas, o dólar terminou a semana praticamente sem sair do lugar (+0,04%) e acumulou valorização de apenas 0,31% em setembro. Operadores notam que houve uma demanda mais forte de moeda à vista pela manhã, em virtude de remessas de lucros e pagamento de dívidas no exterior, o que pressionou a taxa do dólar casado. Com menos procura ao longo da tarde, o dólar à vista perdeu força e o dólar futuro para outubro passou a trabalhar ligeiramente acima da taxa spot.

Para o operador de câmbio Thiago Silêncio, da CM Capital Markets, o descolamento do real da maré negativa das divisas emergentes está “aparentemente” relacionado02 ao início da disputa pela formação da Ptax de setembro, que será definida na segunda-feira, 30. “Perto do que vemos lá fora, o dólar está bem comportado aqui. É natural que quando o dólar futuro tente buscar um nível próximo de R$ 4,20, parte dos players já entre vendendo para realizar lucro”, afirma Silêncio

No exterior, o dólar chegou a perder força em relação a emergentes pela manhã, em meio à informação de que Estados Unidos e China agendaram encontro bilateral para 10 de outubro, em Washington. A notícia da reunião veio na esteira de sinais de trégua na guerra comercial, dados os relatos de venda de soja de produtos americanos ao país asiático nos últimos dias.

continua após a publicidade

O clima azedou no início da tarde com a notícia de que autoridades americanas estariam cogitando impor limites a fluxo de investimentos para a China. Com o fortalecimento da moeda americana lá fora, o dólar chegou a ganhar força por aqui e esboçar uma leve alta, tocando na casa de R$ 4,16. Mas esse movimento rapidamente perdeu força e, após oscilar perto da estabilidade, a moeda americana se firmou em queda nas últimas horas do pregão.

Silêncio, da CM Capital, ressalta que a notícia sobre eventual restrição de investimentos na China aumenta a tensão política nos Estados Unidos, já elevada por conta do processo de impeachment do presidente Donald Trump. “A China já mostrou boa vontade com compra de produtos agrícolas americanos, o que deu um alento ao mercado. Essa possibilidade de limitar investimentos vem no momento em que o Trump está sob pressão e pode tomar decisões ainda mais erráticas e imprevisíveis”, afirma.

continua após a publicidade

Por aqui, o aumento da temperatura no mundo político – com o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a validade de condenações no âmbito da operação Lava Jato e a revelação do ex-procurador-geral Rodrigo Janot de que pretendia matar o ministro do STF Gilmar Mendes – provocou desconforto nos agentes, mas não chegou a ter peso na formação dos preços. As atenções se voltam à votação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e no plenário da Casa na semana que vem.