O dólar interrompeu a sequência de quatro quedas mantida desde que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência, na semana passada, e fechou ontem em alta de 0,75%, a R$ 3,325 para venda e R$ 3,32 para compra. Mas a tendência, ressaltam analistas, ainda é para baixo.
Enquanto isso, o risco Brasil continua a cair. Até o final da tarde, o indicador recuava 1,12% e valia 1.232 pontos – menor cotação desde os 1.208 de 11 de junho. Já o C-Bond, principal título da dívida brasileira no exterior, subiu ontem se manteve acima dos 71% pela primeira vez em sete meses.
A alta no câmbio é técnica e pode se repetir nos próximos dias, ainda que de modo intermitente. Analistas explicam que toda vez que o dólar atinge uma cotação considerada baixa – como ontem, quando a moeda abriu a R$ 3,274 e bateu novamente neste patamar durante a tarde -surgem compradores no mercado, geralmente empresas, dispostos a saldar dívidas fora do país.
Ainda assim, persiste o clima de forte otimismo com o novo governo e de confiança na retomada da estabilidade econômica.
Captações
Reflexo disso é a proliferação de captações de recursos no exterior por bancos brasileiros. Anteontem o Bradesco concluiu uma operação de US$ 250 milhões e prazo de nove meses, e ontem foi a vez do Unibanco e do Itaú confirmarem captações semelhantes, iniciadas anteontem.
O Unibanco pretende emitir pelo menos US$ 75 milhões em eurobônus com prazo de um ano e data de 16 de janeiro, enquanto o Itaú quer arrecadar pelo menos US$ 50 milhões com certificados de depósitos com prazos de 11 meses. Operadores acreditam que ABN Amro e Votorantim estejam seguindo o mesmo caminho.
A perspectiva dessa entrada de recursos na próxima semana já é combustível para que o dólar caia ainda mais. Nos dias das entradas, há expectativa de que a moeda norte-americana possa inclusive ter picos de queda abaixo dos R$ 3,20.
Entretanto, dificilmente a moeda se sustentará abaixo desse patamar no curto prazo.
“Acho que R$ 3,20, agora, é um bom preço, e o dólar deve estabilizar em torno de R$ 3,25”, disse Miriam Tavares, diretora da corretora AGK, citando que apesar das entradas de recursos, também há saídas previstas e contas de empresas a serem pagas no exterior.
“Além disso, o governo tem agido certo, é um governo articulador, mas também terá que enfrentar problemas”, afirmou. As limitações orçamentárias e o gerenciamento das dívidas de Estados e Municípios ainda são percalços não superados.
Dívida
Os investidores aguardam também a decisão do Banco Central sobre uma dívida cambial de cerca de US$ 3 bilhões que vence no próximo dia 16, quinta-feira da semana que vem. Segundo analistas, a autoridade monetária deve começar a rolar o vencimento ainda esta semana, aproveitando a receptividade do mercado.
Embora as últimas operações com dívidas cambiais tenham sido bem-sucedidas, o mercado geralmente se torna mais volátil e agitado nos dias que antecedem esses vencimentos, com pressão por parte dos investidores que compram dólares para substituir as operações de dívida como “hedge” (proteção cambial) e também por aqueles que simplesmente pressionam a cotação para receber mais na hora do resgate, feito em reais.
No caso da dívida do dia 16, a pressão deve ser ainda maior, já que boa parte da dívida (US$ 1,21 bilhão) é em títulos cambiais, que são resgatados integralmente e pelos quais os investidores têm mais a receber.
O restante é em contratos cambiais (“swap cambial”), um tipo de operação que o governo não resgata, mas apenas ajusta, pagando aos investidores a diferença entre a variação dos dólares e dos juros no período, mais uma taxa de remuneração.