A entrada de dólares captados por bancos brasileiros no exterior, a venda de linhas externas pelo Banco Central e o efeito da escolha de Henrique Meirelles para presidir o BC levaram a cotação da moeda norte-americana a despencar nesta segunda-feira. O dólar caiu 3,49% e fechou o dia cotado a R$ 3,60 para venda e R$ 3,59 para compra, a maior queda desde os 4,26% de 11 de outubro. Enquanto isso, o risco-Brasil despencava 4,43% para 1.488 pontos – o menor valor em seis meses.
O principal fator a contribuir com a queda do dólar, ontem, foi a entrada de recursos captados pelo Bradesco e pelo Itaú na semana passada. O Bradesco, segundo sua assessoria, vendeu US$ 175 milhões em eurobônus. O Itaú também teria captado quantia semelhante, segundo cálculos do mercado. Esse dinheiro é positivo não só por melhorar a liquidez do mercado, mas também por mostrar que o financiamento, no exterior, para empresas e bancos brasileiros está menos difícil do que estava nos últimos meses.
Além do dinheiro dos bancos, o BC ontem vendeu ao mercado US$ 200 milhões em linhas externas, elevando para quase US$ 1 bilhão a reserva de “hedge” (proteção cambial) vendida às instituições para a virada do ano.
Embora a quantia tenha data marcada para voltar aos cofres da autoridade financeira, ela contém a cotação por frear a compra de “hedge” no mercado à vista pelos bancos.
Política
O fim do suspense pelo anúncio da equipe econômica do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, no fim da tarde de quinta-feira, ainda produz efeito. O escolhido para presidir o BC, o ex-presidente do BankBoston, Henrique Meirelles, será sabatinado pelo Senado hoje.
Com bom trânsito no mercado internacional, o nome de Meirelles ajudou ontem o risco Brasil a despencar. Além disso, a escolha de seu nome mostrou, segundo analistas, que o PT está comprometido em levar a cabo as promessas de campanha de uma administração mais alinhada com o mercado.
Outro ponto de alívio ontem foi a dívida cambial. Com apenas duas operações na sexta-feira, o BC renovou 93% de uma dívida e US$ 1,8 bilhão que vence na quarta-feira. As taxas pagas pela autoridade monetária foram relativamente baixas, o que deixou o mercado otimista.
Hoje também começa a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que anunciará amanhã (quarta-feira) o destino da taxa básica de juros do mercado, hoje em 22% ao ano. A expectativa do mercado, segundo pesquisa divulgada ontem pelo BC, é de um aumento de dois pontos percentuais.
Bolsa
A Bolsa de Valores de São Paulo assumiu a “euforia” do mercado com a nova diretoria do Banco Central e fechou em alta expressiva, ontem, de 1,95%. O volume de negócios é que superou a expectativa: R$ 1 bilhão, 225 milhões. A Bovespa manteve-se acima dos 10 mil pontos (10.771).
Selic
O mercado financeiro acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) elevará os juros, em sua reunião de hoje e amanhã, de 22% para 24% ao ano. A estimativa está contida na mediana das respostas de 100 instituições financeiras e empresas de consultoria ao questionário semanal feito pelo Banco Central (BC) com perguntas sobre vários indicadores econômicos.
O novo porcentual, divulgado ontem, aponta para uma taxa de juros real na economia da ordem de 13 pontos percentuais, se for levada em conta uma projeção de inflação para 2003 de 11%. Uma taxa de juros elevada ajuda o País a atrair capitais estrangeiros e, com isso, combater a alta do dólar no mercado doméstico, uma das principais fontes de alimentação da inflação nos dias de hoje.