O recente barateamento do dólar é, no curto prazo, o principal ponto de incerteza sobre o processo de recuperação da atividade na indústria. Isso porque ela começou a sair do fundo do poço justamente quando o dólar chegou perto dos R$ 4,00 e, com isso, alguns produtos brasileiros voltaram a ficar competitivos no mercado externo. As empresas buscaram essa alternativa, diante do mercado interno retraído.

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“O mercado externo tem funcionado como uma válvula de escape”, disse o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Por isso, é grande a preocupação com a recente queda da cotação do dólar. “Isso pode colocar areia na engrenagem.”

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“Ninguém coloca como perspectiva a valorização cambial que tivemos no passado”, comentou o diretor de Políticas e Estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Coelho Fernandes, referindo-se à época em que a cotação do dólar estava na casa de R$ 2,00. “Mas é uma dificuldade para o processo de recuperação.”

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O que reforça os sinais de alerta é que, com a volta da confiança dos investidores no Brasil, haverá novamente um forte fluxo de investimentos ingressando no País. Principalmente porque os juros de 14,25% ao ano são bastante elevados para os padrões internacionais.

Uma prova dessa tendência é que aumentou o número de representantes de fundos estrangeiros dialogando com a área econômica em Brasília. Em entrevista concedida ao Estado há duas semanas, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, admitiu que há um refluxo dos investidores, antes afastados por causa do ambiente político e econômico incerto. “Mas não é uma euforia”, ressalvou.

É por isso que os exportadores começaram a se movimentar nos gabinetes governamentais. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, na última sexta-feira, o presidente em exercício, Michel Temer, disse que o problema do câmbio já havia chegado à sua mesa.

O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, minimizou o problema em entrevista ao Estado. “No momento, o câmbio parece ter atingido sua taxa de equilíbrio, interrompendo o ciclo de desvalorização do real, o que é positivo para dar maior previsibilidade ao setor produtivo”, disse.

“É claro que os movimentos de curto prazo podem deixar gente assustada, mas o câmbio é flutuante”, afirmou o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida. “O que podemos fazer é criar condições para esse câmbio ser mais desvalorizado e ajudar a indústria no longo prazo.” Ele acrescentou que, para isso, seria necessário aumentar muito a taxa de poupança do País. “Isso está ligado com duas coisas: reforma fiscal e da Previdência.”

Embora seja inegável que o dólar mais barato atrapalha as exportações, ele traz outras consequências positivas para a economia brasileira. O economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero, explicou que o dólar desvalorizado ajuda a manter a inflação baixa.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo