A valorização do real dificilmente arrefecerá no curto prazo: a taxa de câmbio caminhará para o nível de R$ 1,50 por dólar até setembro. É o que esperam analistas internacionais, que citam os fundamentos da economia brasileira, em particular a taxa de juros bem mais alta do que as outras economias mundiais, para que o País continue recebendo um grande fluxo de capital estrangeiro. Nesta terça-feira, moeda americana fechou a R$ 1,536, registrando baixa de 0,35%. A queda acontece há seis dias consecutivos.

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“O governo pode até tentar reduzir o ritmo de apreciação, mas não conseguirá reverter a tendência de um real mais forte”, disse à Agência Estado Win Thin, diretor de pesquisa para mercados emergentes da Brown Brothers Harriman em Nova York. Segundo ele, os números da conta corrente divulgados hoje ainda mostram que o Brasil está atraindo grande quantia de investimento direto e de portfólio (em ações de empresas negociadas em bolsa e títulos de renda fixa) por parte dos estrangeiros. Thin previu que o câmbio atingirá a marca psicológica de R$ 1,50 por dólar entre agosto e setembro.

À medida que o câmbio se aproxime do barreira de R$ 1,50, o estrategista da Brown Brothers Harriman acredita que o governo ficará mais nervoso e provavelmente adotará algumas medidas adicionais de controle cambial para conter a apreciação do real. “Haverá mais nervosismo e mais resistência à aproximação da marca de R$ 1,50”, disse Thin. Para ele, o real está 7% sobrevalorizado com base no cálculo da paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês) utilizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na opinião do vice-presidente para mercados emergentes da MF Global, Michael Roche, baseado em Nova York, os juros elevados no Brasil tornam o País um destino mais atraente para o dinheiro dos investidores estrangeiros em busca de maior taxa de retorno. “Comparado com outros países emergentes, como a Índia, cuja inflação está em torno de 9,44% e a taxa básica de juros foi elevada hoje para 8%, ou seja, juros negativos, o Brasil oferece uma relação de retorno e risco muito favorável”, disse Roche. Com a taxa Selic a 12,50% e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a 6,71%, no acumulado de 12 meses até junho, os juros reais no Brasil tornam-se praticamente “imbatíveis”, ao redor de 5,79%, afirmou o estrategista.

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“Não há outro país, na visão dos investidores, que apresenta uma história tão positiva em termos de fundamentos econômicos como o Brasil, assim os investidores deverão continuar buscando os ativos brasileiros”, afirmou Roche. Ele previu que o câmbio atingirá o patamar de R$ 1,50 até o final de setembro. “Estou confiante que o câmbio vai se fortalecer ainda mais, ultrapassando a barreira de R$ 1,50 por dólar.”

Para Paul Biszko, estrategista sênior para mercados emergentes da RBC Capital Markets em Toronto, no Canadá, a percepção dos investidores estrangeiros de que a presidente Dilma Rousseff não está inclinada a adotar medidas cambiais agressivas até que o cenário internacional se acalme mais, deu o “sinal verde” para um aumento nas apostas no mercado financeiro de um real mais valorizado, o que ajuda a explicar os ganhos da moeda brasileira hoje.

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“Se não houver nenhuma deterioração séria no cenário internacional, com uma piora na situação fiscal nos Estados Unidos ou mesmo um rebaixamento na classificação de risco americana, acredito que o real deverá atingir a marca de R$ 1,50 por dólar no curto prazo, algo como nas próximas duas semanas”, disse Biszko. “Se investidores continuarem com apetite por ativos de maior risco, o viés é de um real se valorizando cada vez mais.”