A mudança de patamar do dólar, que acumula alta de cerca de 10% nos últimos 60 dias, começa a bater no bolso do brasileiro em preços de itens que refletem imediatamente o movimento do câmbio, como bebidas importadas e pacotes de viagens internacionais. A tendência é que o maior impacto do câmbio nos preços do varejo ocorra no primeiro trimestre de 2015, quando o comércio já não terá itens importados em estoque, adquiridos com um dólar mais em conta, para atenuar a pressão de alta.
“A desvalorização do real que vem ocorrendo ao longo deste ano certamente vai ser repassada para os preços”, afirma o presidente do conselho consultivo da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda. Ele observa que esse repasse do câmbio já pode ser observado em bebidas importadas, como vinhos e uísques, que estão 10% mais caros em relação ao ano passado. “Não tem como segurar, esse repasse é natural”, observa.
A direção de uma grande rede de supermercados, que não quis ter seu nome divulgado, está preocupada com o reflexo do movimento recente do câmbio nos preços ao consumidor no primeiro trimestre do ano que vem. De acordo com a companhia, neste fim de ano o efeito da alta do dólar será pequeno, porque os produtos vendidos atualmente nas lojas foram adquiridos em agosto e setembro, quando o nível do câmbio era menor. Na sexta-feira, o dólar fechou cotado a R$ 2,47 e em 1.º de setembro valia R$ 2,23.
Esse salto da moeda americana aumentou a cautela de quem está interessado em viajar para o exterior no Natal e no ano-novo. “Não tivemos rescisão de pacotes internacionais, mas o consumidor que negocia uma viagem para o exterior está pedindo um prazo maior para fechar a compra”, conta o diretor executivo da TAM Viagens, Sílvio Ferraz.
Ele diz que até agora não houve queda nas vendas nem migração de compras de pacotes internacionais para os nacionais. O maior problema, segundo ele, é a alta volatilidade do câmbio, o que provoca diferenças significativas no preço final das viagens.
Na segunda-feira, por exemplo, a empresa trabalhava com câmbio de R$ 2,69 e na quinta, a cotação tinha recuado para R$ 2,57. Em três dias, houve uma redução de R$ 0,12 por dólar, o que representa uma diferença importante no preço final da viagem. Por isso, o consumidor está prorrogando a compra na expectativa de que o câmbio se estabilize.
Importadores. A instabilidade do câmbio também preocupa os importadores. “Com essa grande variação no câmbio, a situação fica muito complicada: há importadores que deixaram de viajar para fazer encomendas para o final de ano e estão trabalhando com estoques remanescentes”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Importadores, Produtores e Distribuidores de Bens de Consumo (Abcon), Gustavo Dedivitis. Ele observa também que o setor enfrenta problemas com queda nas vendas. De janeiro a setembro, houve retração de 30% na comparação com o mesmo período do ano passado. A expectativa era crescer 20% na comparação anual.
Dedivitis conta que a entidade reúne 60 importadores, que fornecem itens de utilidade doméstica e presentes para grandes redes varejistas, como Grupo Pão de Açúcar e Magazine Luiza.
Com a forte oscilação da cotação da moeda americana, o presidente da Abcon explica que o importador corre o risco de ter os seus custos ampliados na hora de desembaraçar a mercadoria na alfândega. Neste momento, ele tem de pagar os impostos, levando em conta a cotação do dólar do dia. Muitos produtos, diz ele, foram encomendados 200 dias atrás, quando o câmbio estava em R$ 2,25. E na hora de fazer a DI (Declaração de Importação) o câmbio foi para R$ 2,40. “É um aumento de custo que nem sempre dá para repassar. Perdemos o lucro.”
A dificuldade de transferir a alta do dólar para os preços é um problema pa,ra os importadores de veículos, que também registram queda nas vendas. O presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), Marcel Visconde, conta que as vendas de veículos importados recuaram 17% de janeiro a setembro em relação ao mesmo período de 2013, enquanto o setor em geral registrou queda de 9%.
“Não dá para repassar a alta do câmbio para o preço. Estamos mais estrangulados, mas tudo tem limite”, diz. Uma das alternativas para atenuar esse impacto negativo nos custos tem sido reduzir o ritmo de importações de veículos. “Estamos mais cautelosos em relação ao inventário.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.