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Dólar mais forte é impulso para algumas economias, mas excesso pode ser problema

O dólar mais forte dá a algumas economias um impulso que as medidas de estímulos dificilmente concedem, mesmo que o rali da moeda dos Estados Unidos ameace os preços das commodities e os mercados emergentes. Ao enfraquecer outras divisas, o avanço do dólar ajuda os esforços de governos e dos bancos centrais para elevar o crescimento e gerar inflação, metas que se mostraram difíceis de alcançar apesar de anos de políticas de dinheiro barato.

Na Europa, o recuo de 2,7% do euro ante o dólar desde 9 de novembro ajudou a elevar os preços ao consumidor para sua taxa anual mais forte em três anos em dezembro. Uma moeda mais fraca tende a gerar inflação ao deixar as importações mais caras, enquanto beneficia as exportadoras ao tornar seus produtos mais competitivos no exterior.

Conforme o dólar se valoriza ante o iene, isso gerou um rali de 18% de valorização no índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, desde o início de novembro, além de impulsionar as expectativas de crescimento do país. O Banco do Japão elevou neste mês sua projeção para a economia pela primeira vez desde maio de 2015, citando a melhora no sentimento e a moeda mais fraca.

“Esses países querem crescimento. As taxas negativas e os estímulos não atingiram isso e eles imaginam que uma moeda mais fraca pode ajudar”, disse Robert Savage, executivo-chefe do fundo de hedge cambial CCtrack Solutions. “O mundo pode acordar e dizer que o euro abaixo de US$ 1 não é na verdade algo ruim.”

Um dólar que se valoriza muito fortemente ou de maneira muito rápida pode ser um problema. Uma moeda forte nos EUA tende a criar dores de cabeça para os mercados emergentes e outros que emprestam muito em dólar ao tornar essa dívida mais difícil de administrar. As commodities, cotadas em dólares, podem ficar sob pressão, já que ficam mais caras para os compradores com outras moedas. O crescimento econômico dos EUA tende a sofrer também, bem como as companhias. Para alguns países, as moedas mais fracas fornecem um estímulo.

A inesperada valorização do iene no ano passado afetou os lucros das grandes exportadoras do Japão, derrubou os preços das ações e levou o Banco do Japão a abandonar sua meta de elevar a inflação de níveis negativos para 2%. Mas uma reversão na valorização do iene no quarto trimestre levou as ações japonesas para a máxima em um ano.

O iene recuou quase 8% ante o dólar desde o início de novembro, o que ajudará a fortalecer a economia da nação asiática e melhorar o sentimento sobre a inflação, afirmou no mês passado o presidente do BC japonês, Haruhiko Kuroda. Tóquio agora prevê que a economia acelere para um crescimento de 1,5%, de uma estimativa anterior de 1,3%, no ano fiscal encerrado em março.

A desvalorização do iene “ajudou a dar valor ao mercado acionário do Japão”, disse Vinay Pande, diretor de oportunidades de investimento de curto prazo do UBS Wealth Management. “Se você puder lidar com o monstro da deflação, há muito espaço de alta naquele mercado.”

Pande tem comprado e vendido ações japonesas no último ano e pretende comprá-las novamente se o Nikkei recuar.

Moedas mais desvalorizadas também ajudaram Rússia e Brasil a impulsionar o crescimento, após os preços das commodities recuarem nos últimos anos, impulsionando suas ações para mostrar ganhos em 2016. O mercado acionário da Rússia subiu 52% no ano passado, enquanto o do Brasil teve um retorno de 39%.

O rublo mais fraco ajuda a compensar a queda nos preços para os produtores de petróleo do país, amortecendo o impacto da queda de quase 80% do óleo de 2014 a 2016, afirmou Pande. “O mercado russo foi destruído e agora eles veem espaço para subir”, disse Pande, que mantém ações russas. “Uma moeda mais fraca ajudou a apoiar essa valorização.”

O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que a economia da Rússia, que sofre com os preços fracos do petróleo e sanções internacionais, cresça 1,1% neste ano, após contração de 0,8% em 2016.

Alguns acreditam, por sua vez, que os efeitos negativos do dólar mais fraco podem estar se manifestando, especialmente em mercados emergentes, onde os crescentes preços ao consumidor já estão altos e um recuo das moedas locais ameaçam gerar fuga de capital.

Os bancos centrais nos mercados emergentes, como o Brasil, terão limites em quanto de relaxamento monetário poderão realizar, já que as taxas baixas de juros tornam suas moedas menos atrativas para investidores, enquanto as taxas dos EUA estão aumentando, disse o HSBC em relatório.

A China elevou as taxas interbancárias para o segundo patamar mais alto já registrado no início de janeiro, em uma tentativa de apoiar o yuan e conter a saída de capital. Os bancos centrais no México e na Turquia elevaram juros para defender suas moedas da queda.

Por ora, “a maioria dos bancos centrais preferiria ter uma moeda mais fraca que uma mais forte”, afirmou Kit Juckes, estrategista do Société Générale. “Porém é possível ter demasiado de uma coisa boa”, advertiu. Fonte: Dow Jones Newswires.

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