Dólar fecha quase estável em dia de cabo-de-guerra

São Paulo (das agências) – Após uma manhã extremante volátil, em que variou de uma queda de 1,1% a uma alta de 1% e inverteu a trajetória sucessivas vezes, o dólar fechou praticamente estável, ontem, vendido a R$ 3,85 e comprado a R$ 3,84 -ou 0,26% menos do que valia anteontem. O risco-país, por sua vez, subiu 2,47% para 2.275 pontos. A Bovespa fechou o dia de negócios, ontem, em alta de 0,66%, com negócios de R$ 426 milhões em 8.506 pontos. Entre as ações com maiores altas ontem, a Telemig PN (5,98%) e a Embratel ON (5%). Entre as maiores quedas, Ipiranga PN (-5%) e Celesc (-4%).

Segundo operadores, o volume de negócios foi razoável durante a manhã e irrisório durante a tarde. O mercado passou o dia no cabo de guerra entre os que querem comprar dólares, motivados pelo vencimento de US$ 3,6 bilhões em dívida cambial amanhã, e os que querem vender, motivados pelo fim do prazo para ajuste às novas regras de exposição de crédito impostas pelo Banco Central, que termina hoje.

Assim, o dólar passeou entre R$ 3,805 e R$ 3,89. Nesse ínterim, o BC e o Tesouro promoveram nada menos do que seis operações com os mercados de câmbio e juros, além de uma discreta intervenção direta no mercado à vista de dólar, confirmada pela autoridade monetária no fim da tarde mas ignorada por boa parte dos operadores – o que indica que o montante, não revelado pelo BC, deve ser pequeno.

Dívida

A dívida que vence amanhã (quinta-feira) leva os investidores que possuem “hedge” (proteção cambial) em títulos e contratos do governo prestes a vencer, o substitua por dinheiro vivo, recorrendo ao mercado de dólar à vista.

As taxas estratosféricas cobradas pelo mercado para aceitar os papéis que o BC oferece, agora de prazo curtíssimo (com vencimentos em novembro e dezembro deste ano) indicam a percepção de que o dólar vai cair logo após as eleições, o que faz com que esses investidores cobrem juros mais altos para aceitar os papéis.

Isso acontece porque os papéis que o governo oferecem são “swaps”, contratos que pagam somente a remuneração ao investidor, composta por juros e variação do dólar. Se a expectativa é de queda do dólar, os investidores tentam cobrar juros mais altos para manterem seu lucro.

O BC, entretanto, não tem aceitado pagar esses juros mais altos. Por isso, ontem não aceitou nem as propostas para rolar US$ 500 milhões da dívida que vence amanhã nem as propostas para fechar mais operações de “swap” para novembro. As taxas cobradas pelas instituições financeiras não foram divulgadas pela autoridade monetária por estarem “distorcidas” pelo prazo reduzido. Além das duas operações com “swap”, o BC vendeu US$ 40 milhões em linhas para financiamento de exportações ao mercado.

Juros

O Tesouro, por sua vez, realizou três operações no mercado de juros, agora mais atraente ao investidor devido à elevação, anunciada anteontem, da taxa básica de juros de 18% para 21% ao ano.

Na primeira operação, o Tesouro antecipou LFTs (Letras Financeiras do Tesouro, títulos pós-fixados) para junho do ano que vem, como tem feito dia sim, dia não. Nas outras duas, vendeu LFTs que vencem em dezembro deste ano e janeiro do ano que vem ao mercado.

Durante a manhã, no tradicional leilão das terças-feiras, foi vendida toda a oferta de 500 mil títulos. Na operação anunciada durante a tarde na cola da alta demanda registrada no primeiro leilão, foram vendidas mais 1 milhão de LFTs.

EUA admite que tem “plano B”

O governo dos Estados Unidos têm um “plano de contingência?? caso o Brasil, por qualquer motivo que seja, declare moratória, disse em Miami o subsecretário do Tesouro, Kenneth Dam. Ele, no entanto, não detalhou como seria esse plano de contingência. Disse inclusive considerar improvável essa possibilidade.

“Tenho confiança em que um governo democraticamente eleito fará o que é melhor para o país??, disse o subsecretário do Tesouro. ??Se Lula ganhar realmente, trabalharemos com ele (…) faremos o melhor para apoiar o Brasil??, afirmou.

Numa palestra em Miami, Dam descartou insinuações de que havia um grande mal-estar devido à forte possibilidade de Lula ser eleito novo presidente.

??O Brasil tem seguido políticas sadias”, disse. Dam expressou confiança em que o próximo governo manterá o país no mesmo caminho, e ressaltou que o crédito de US$ 30,4 bilhões do FMI em setembro estava condicionado à aplicação de políticas macroeconômicas sadias.

O secretário-assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental, Otto Reich, também se declarou otimista sobre as perspectivas do Brasil. Reich minimizou a probabilidade de que a próxima administração brasileira declare a moratória sobre a dívida do país, acima de US$ 200 bilhões.

??Isso não quer dizer que não temos analisado?? essa possibilidade, indicou, declinando entretanto discutir o que afirmou era um plano de contingência.

Dam também descartou a preocupação quanto à decisão do Banco Central do Brasil segunda-feira de elevar sua taxa de juros de 18% a 21%, diante do aumento da inflação causado pela forte desvalorização do real.

“Temos muita confiança nas autoridades brasileiras e em (o presidente do BC Armínio) Fraga”, disse Dam.

Medidas do BC dividem especialistas

O objetivo maior da elevação dos juros básicos da economia, a taxa Selic, divide economistas habituados a analisar o cenário econômico.

José Márcio Camargo, da PUC/RJ e da Tendências Consultoria, avalia que, pela primeira vez desde 1995, há pressões generalizadas de preço e que o banco evidenciou a disposição de combater esta tendência via juros.

Para o economista, o objetivo não é controlar o câmbio, mas a inflação, até porque outras componentes, como o processo eleitoral, influem na volatilidade. Neste sentido, o aumento dos juros pode ter algum efeito sobre a taxa deste ano, mas “o efeito maior será no ano que vem”.

Já o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda, analisa que o banco mirou a especulação do câmbio quando disparou a medida. Segundo ele, a medida representa uma espécie de reversão do que se dizia a respeito do câmbio flutuante. Em sua análise, os juros, usados oficialmente dentro do regime de metas de inflação, “no caso agora estão sendo usados como instrumento para tentar diminuir a especulação”.

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