O dólar registrou a quinta semana consecutiva de valorização no Brasil, influenciado pelo aumento do temor de piora da economia mundial e, nos últimos dias, pela crise na Argentina. A moeda americana acumulou alta de 1,59% aqui e de 20% no país vizinho, em uma semana que notícias boas da economia doméstica foram ofuscadas pelos eventos externos. O dólar à vista fechou a sexta-feira em R$ 4,0031, com alta de 0,33%.
Mesmo com o estresse dos últimos dias, que levou o dólar para o nível de R$ 4,00 pela primeira vez desde maio, especialistas em moedas avaliam que a volatilidade e o nervosismo devem prosseguir, mantendo o câmbio pressionado aqui e em outros emergentes. A situação na Argentina não deve melhorar no curto prazo, na medida em que o mercado não mais acredita nas chances de vitória do atual presidente, Mauricio Macro, ressalta o diretor de um banco.
No cenário externo, não se espera um desfecho rápido para o impasse comercial entre a China e os Estados Unidos. “Permanecemos cautelosos com moedas de emergentes”, afirmam os estrategistas do Bank of America Merrill Lynch nesta sexta-feira. “Os ativos de risco tiveram um choque de realidade esta semana”, completam, destacando que aumentou a percepção de que a política monetária sozinha não vai conseguir reverter a piora da economia mundial.
Em meio ao conturbado momento no mercado financeiro internacional, a semana que vem terá dois eventos que podem afetar as cotações do dólar. A ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que sai na quarta-feira (21), e o simpósio anual do Fed em Jackson Hole, no Wyoming, e que deve reunir alguns dos principais banqueiros centrais do planeta, entre os próximos dias 22 a 24. “Esperamos que o presidente do Fed Jerome Powell indique que os riscos de piora da economia permanecem relevantes”, avaliam os economistas em Nova York do Barclays, prevendo novo corte de juros nos EUA em setembro.
Na semana que vem, dia 21, o Banco Central começa sua nova estratégia de atuação no câmbio, com três instrumentos, venda de dólares das reservas, swap cambial (venda de dólar no mercado futuro) e swap cambial reverso (compra de dólar no mercado futuro). “Finalmente o BC está fazendo o que é correto”, avalia o sócio e presidente da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC.
Nesta sexta-feira, a cautela acabou prevalecendo no mercado local, antes de um final de semana que terá manifestações em Hong Kong e ainda podem aparecer desdobramentos das discussões comerciais entre China e EUA. O dólar subiu ante divisas fortes e de alguns emergentes como México, Rússia, Turquia e África do Sul.