Dados surpreendentes das vendas no varejo, aliados a sinais positivos da reforma da previdência e aos efeitos cumulativos das intervenções do Banco Central no mercado de câmbio, deram fôlego extra ao real nesta terça-feira. Descolado do ambiente de fortalecimento da moeda americana frente a divisas emergentes, o dólar à vista operou em queda ao longo de toda a sessão e, após registrar mínima de R$ 4,0526, encerrou o dia a R$ 4,0648, em queda de 0,75%.
A alta nas vendas no varejo restrito (1%) e ampliado (0,7%) em julho (na margem) superou o teto da estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast. Também houve revisão para cima do crescimento do varejo na margem em junho e maio.
A economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, observa que os números do varejo deram ânimo ao mercado acionário brasileiro, o que acabou contribuindo para o fortalecimento do real. “Não dá para afirmar que a economia agora vai deslanchar, mas foi uma surpresa muito positiva e acabou contribuindo para o dólar se descolar lá de fora”, afirma.
Simone também destaca o impacto positivo da informação de que o relator da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Tasso Jereissati, em consulta com técnicos legislativos, pode alterar seu parecer para evitar que o texto tenha que voltar a Câmara dos Deputados.
Segundo operadores ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o maior apetite ao risco exterior e a diminuição das tensões na Argentina nos últimos dias diminuíram a atratividade das apostas especulativas contra o real. Por outro lado, a cautela em relação a um eventual recrudescimento da guerra comercial e seus eventuais efeitos sobre a economia global desautorizam uma queda mais acentuada do dólar.
Em meio à espera pela reunião bilateral entre China e Estados Unidos em outubro, trouxe certo alívio aos negócios nesta terça-feira a decisão dos chineses de retirar 16 produtos americanos da lista da sobretaxação. Espera-se também que o Banco Central Europeu, que tem nesta quinta sua decisão de política monetária, anuncie novos estímulos, como um pacote de compra de ativos. Investidores também contam com um novo corte de juros nos Estados Unidos na próxima semana, quando há encontro do comitê de política monetária do Federal Reserve.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que, além do ambiente externo mais ameno, os efeitos cumulativos da atuação do Banco Central acabam dando certa sustentação ao real. Além disso, há expectativa de melhora do fluxo cambial nos próximos meses, com entrada de recursos para leilões da cessão onerosa e de privatizações. “Lá fora o clima acalmou. Aqui, as reformas estão andando e a economia dá algum sinal de melhora. Com esses fatores e um BC atuante, suprindo a demanda no mercado à vista, a dinâmica do mercado de câmbio ficou melhor”, diz Galhardo.
Pela manhã, o BC colocou integralmente as ofertas de US$ 580 milhões nos leilões de dólares à vista e de swap cambial reverso. À tarde, informou que o fluxo cambial em setembro até o dia 6 foi negativo em US$ 1,591 bilhão, com saídas líquidas de US$ 1,744 bilhão pelo canal financeiro. No acumulado do ano, o fluxo é negativo em US$ 8,177 bilhões. Para se ter uma ideia da magnitude desses números, basta lembrar que em igual período do ano passado o saldo era positivo em US$ 23,303 bilhões.