O mercado cambial viveu uma quarta-feira de desencontros e como resultado o dólar fechou em alta de 0,48%, cotado a R$ 3,115 para venda e R$ 3,11 para compra, após registrar cotação máxima de R$ 3,156. Já o risco-país brasileiro, após subir na maior parte do dia, agora cai 0,8% para 1.715 pontos. As cotações sofreram pressão especialmente durante a manhã, ainda sob efeito da queda de ontem nos mercados externos.
O Banco Central teria vendido dólares no mercado à vista para reduzir essa pressão, mas conseguiu apenas amenizar a alta e não revertê-la. Além disso, a autoridade monetária leiloou US$ 60 milhões em linhas à exportação, sob taxa de remuneração de 4% ao ano e uma grande venda de dólares por parte de um banco nacional teria completado o cenário, afirmaram operadores.
O pessimismo nos mercados externos interfere diretamente na cotação do dólar, já que a cautela dos estrangeiros aumenta e o fluxo da moeda para mercados emergentes diminui. Ainda abalado pelo fechamento das linhas de crédito para empresas brasileiras em julho e primeiras semanas de agosto, o mercado, que começava a recuperar a confiança externa, teme novo estrangulamento.
Essa tensão ficou explícita hoje na pressão compradora gerada pelo temor em relação a uma dívida de US$ 150 milhões da Light que vence na sexta-feira. Mas segundo analistas do setor elétrico, a empresa já teria comprado os dólares para liquidar a dívida na segunda e na terça-feira, não exercendo pressão sobre o câmbio hoje.
Até o fechamento do mercado cambial, a informação não foi desmentida nem confirmada pela distribuidora de energia fluminense. O mercado estaria preocupado também com o vencimento de US$ 1,4 bilhão em títulos cambiais na próxima quarta-feira, dia 11. Caso o Banco Central seja levado a resgatar esses títulos, a quantidade de reais no mercado disponível para investimentos em câmbio aumentaria, podendo pressionar a cotação do dólar.
Analistas do setor, entretanto, afirmam que a pressão seria falsa, pois embora exista uma falta de liquidez em dólares no mercado, o mesmo não acontece com os reais, que “sobram”. “Esse vencimento em reais é irrisório perto do que o mercado, que hoje é credor em R$ 34 bilhões, tem”, afirmou um analista.
O fato é que o mercado, estressado por três meses de intensa volatilidade e pressão sobre o câmbio, nem sempre precisa de notícias concretas para começar a comprar dólares, muitas vezes se amparando em suposições e rumores. “Os bancos, quando estão esperando determinada notícia e vêem algum outro banco entrar na ponta de compra, acabam comprando também, para se prevenir”, observa Miriam Tavares, diretora da corretora AGK. (Correio Web/FolhaNews)