São Paulo
– O dólar encerra a última semana antes do primeiro turno das eleições cotado a R$ 3,62 para venda e R$ 3,61 para compra, acumulando perda de 6,7%. No dia, a moeda recuou 2,16%. O risco-Brasil operou em queda de 4,18% e, pela primeira vez desde o início de setembro, fechou o dia abaixo dos dois mil pontos: a 1.945 pontos. Nos últimos cinco dias, a moeda oscilou essencialmente em função da movimentação política e com a melhora do desempenho dos títulos da dívida brasileira no exterior. A ordem do dia foi “ajustar posições” para o pleito de domingo: as instituições querem dólares em caixa por segurança, mas não demais para que uma eventual queda na segunda-feira não cause grandes prejuízos – daí a queda na cotação.A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) conseguiu se descolar de Nova York e fechou o pregão em alta de 1,31%. O Ibovespa apresentou 9.259 pontos e volume financeiro de R$ 340,3 milhões.
Poucos ousam fazer apostas sobre o resultado da votação, mesmo porque a disputa permanece bastante acirrada. Mas, de forma geral, é possível dizer que o humor do mercado melhorou em relação à transição presidencial – definida pelo economista-chefe do banco JP Morgan no Brasil, Luís Fernando Lopes, como “a mais tranqüila da história recente do País, independente de quem seja o vencedor da eleição”.
Primeiro, o mercado passou a assimilar melhor a possibilidade de uma vitória do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, quando, no último fim de semana, figuras importantes do meio empresarial e financeiro lhe declararam apoio e ressaltaram, junto a executivos internacionais, o compromisso de um eventual governo do PT com as dívidas do País.
Ontem, por outro lado, ressurgiu com força no mercado a expectativa de que a eleição tenha segundo turno, nesse caso, provavelmente disputado entre Lula e o governista José Serra (PSDB). A última pesquisa de intenção de voto do Datafolha, divulgada na noite de quarta-feira, indicou que Lula estaria a um único ponto de vencer o pleito no primeiro turno, mas mostrou também um avanço da candidatura de Serra, que passa a ter mais chances de recuperação caso vá para o segundo turno.
Também a melhora da perspectiva para a dívida brasileira negociada no exterior colaborou para a queda do dólar.
O Banco Central teria, segundo analistas do setor, intervindo no mercado de dívida recomprando títulos brasileiros nos últimos quatro dias – o que fez com que o C-Bond, principal desses títulos, saísse de seu pior valor nos últimos sete anos, 47% do valor de face, na segunda-feira e chegasse ontem a 54,5% do valor de face.
Ontem especificamente, o movimento foi detonado pela restituição da classificação dos títulos da dívida brasileira pelo banco de investimento Merrill Lynch, que na semana passada os rebaixara para “abaixo do peso do mercado” e ontem anunciou que os devolveu a classificação “em linha com o mercado”.
Ainda no quesito dívida, o BC tentou ontem iniciar com duas semanas de antecedência a rolagem de uma dívida cambial de US$ 3,6 bilhões que vence no dia 17. Entretanto, o mercado cobrou taxas muito altas para aceitar novos papéis do governo, em um sinal claro de que não tem interesse em fazer hedge (proteção cambial) em papéis, mas sim em moeda.
O BC não aceitou as taxas propostas e preferiu não rolar nada do montante. A autoridade monetária não anunciou se dará continuidade à tentativa de rolagem após o resultado da operação de ontem ou não.
Analistas do setor acreditam que a liquidação da dívida (sem a rolagem dos títulos) é positiva para o governo, que acaba se tornando menos suscetível à volatilidade do câmbio.
Banco recomenda “comprar”
O banco de investimentos norte-americano Merrill Lynch elevou a avaliação dos bônus brasileiros para ??marketweight?? (em linha com a performance do mercado) em seu portfólio que reúne títulos da dívida de países emergentes, afirmando que um alívio das incertezas após uma definição eleitoral clara na segunda-feira seria o cenário mais provável.
O banco tinha uma recomendação de “underweight?? (abaixo da performance do mercado) para os bônus brasileiros, em decorrência de preocupações que dominaram o mercado da dívida brasileira desde meados de abril, com a possibilidade de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições. Há cerca de dez dias, o banco tinha efetivamente rebaixado os bônus.
Nesta sexta-feira, os bônus referenciais da dívida brasileira acumulavam perdas de 29% em relação a meados de abril.
Os mercados temem Lula, pois ele já defendeu a renegociação da dívida em campanhas anteriores. Apesar de já ter dito por diversas vezes que irá respeitar os contratos financeiros do Brasil, o mercado ainda não se convenceu sobre sua capacidade de gerir a economia.