O dólar fechou em alta, ontem, pelo terceiro dia consecutivo e atingiu a maior cotação desde o último dia 25 de janeiro. A moeda norte-americana subiu 1,47% e terminou cotada a R$ 2,682. Nos últimos três dias, a divisa acumulou uma valorização de 3,59%. ?Adeus, dólar abaixo de R$ 2,60?. Esse é agora o sentimento dominante no mercado de câmbio. Durante a tarde, a moeda chegou a subir 2,91%, cravando uma máxima de R$ 2,72. Mas depois desacelerou.

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A disparada da cotação não assustou os operadores. Não houve nenhum motivo surpreendente ou bombástico para a forte alta. A principal razão era técnica: as tesourarias dos bancos ?abortaram? suas apostas na tendência de queda do dólar.

Nos últimos meses, os bancos assumiram, com agressividade, posições ?vendidas? no mercado de câmbio. Isto é, apostaram no recuo das cotações, considerando que os juros domésticos em alta atraem bastante capital especulativo para o país, o que eleva a oferta de divisas.

Só que, na semana passada, a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) deu sinal de que o atual ciclo de alta dos juros está com os dias contados. Os analistas passaram a vislumbrar o momento em que a taxa vai parar de subir.

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Além do Copom, o ministro Antônio Palocci (Fazenda) reforçou a expectativa positiva sobre os juros avaliando que a inflação está domada – apesar da ?casca de banana? do reajuste do ônibus em São Paulo, autorizado pelo prefeito tucano José Serra. O aumento da passagem fará a inflação de março dobrar, segundo a Fipe.

Com a retórica do ?pior já passou? entrando em cena, os bancos já trabalham com o cenário de que a forte entrada do capital especulativo, como se viu nos últimos meses, tende a perder o fôlego, já que a ?farra? dos maiores juros do mundo está perto do fim.

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O Banco Central também aumentou o seu poder de fogo no mercado de câmbio, comprando mais divisas. O presidente do BC, Henrique Meirelles, não esconde sua disposição de continuar vendendo contratos de ?swap cambial inverso?, cujo efeito prático é de uma compra de dólar no mercado futuro, o que pressiona a cotação.

O quadro político também motivou especulações desde os desdobramentos da derrota do PT na eleição da presidência da Câmara e da polêmica declaração do presidente Lula sobre suposto caso de corrupção no governo FHC (1995-2002). Teme-se que o clima de ?lavagem de roupa suja? se instale em Brasília, um ano antes da sucessão presidencial.

A nova tendência de alta do dólar arranha a reputação de alguns analistas ?midiáticos? que, na euforia do tombo das cotações em fevereiro, chegaram a prever o dólar a R$ 2,40 no curto prazo. O mínimo que a divisa atingiu foi R$ 2,553, no dia 18 de fevereiro.