As expectativas são de que o câmbio deve continuar em queda nos próximos meses, apesar das intervenções do Banco Central, segundo analistas. A autoridade monetária, que vinha comprando dólares desde dezembro, começou, na semana passada, a realizar leilões do chamado "swap" cambial. A iniciativa, que, como foi feita, equivale a uma compra no mercado futuro, poderia ter aumentado a demanda por dólares, mas não foi o que ocorreu.
O BC não tem conseguido segurar o câmbio, mas apenas diminuir a velocidade de sua queda, em razão do forte fluxo de dólares para o Brasil, decorrente de captações e investimentos em busca das maiores taxas de juros pagas no mundo.
Apesar de, na sexta-feira passada, o dólar comercial para venda ter subido 0,42%, no acumulado da semana a desvalorização da moeda norte-americana diante do real foi de 1,25%.
No último dia antes do Carnaval, o câmbio, que batera em R$ 2,588 pela manhã, subiu com a ajuda do cenário externo e com a compra de dólares pelo Banco Central, em volume superior ao de costume, segundo operadores. Encerrou o dia cotado a R$ 2,614.
"O volume de dólares para o Brasil é absurdo. Com os juros elevados, a moeda pode ficar abaixo de R$ 2,50 nos próximos meses", diz Paulo Tenani, estrategista do UBS.
As expectativas para a taxa de câmbio no final de 2005 continuam a cair, segundo o Boletim Focus, elaborado pelo BC a partir de consultas a cerca de cem instituições financeiras.
A média das projeções caiu para R$ 2,90, conforme dados divulgados na segunda-feira passada. No final de outubro de 2004, estava em R$ 3,10.
E deve continuar a cair, em razão do enfraquecimento global do dólar e da escalada dos juros básicos, a taxa Selic, no Brasil.
"O BC está em uma política incoerente de subir juros, de um lado, e de não querer que o dólar caia, de outro", diz João Luiz Máscolo, professor do Ibmec e sócio da Foresee Asset Management.
Com a taxa Selic em 18,25%, dólares de investidores estrangeiros entram em busca da diferença de mais de 10% entre o que se paga de juros no País e no exterior.
"Com esse diferencial bárbaro, o dólar vai continuar a cair até que o BC, em dois ou três meses, se veja forçado a cortar juros."
Tenani avalia que indicadores de inflação vão despencar, especialmente o IGP (Índice Geral de Preços), que é mais suscetível ao câmbio, o que "machuca o bolso do Tesouro" por aumentar a relação dívida/PIB.
Para Máscolo, uma ruptura nessa apreciação do real poderá ocorrer se a Selic começar a cair quando os juros americanos já estiverem um ponto percentual mais alto, em torno de agosto.
"Se a política fiscal dos Estados Unidos se tornar mais austera e o diferencial de juros cair, poderá provocar valorização do dólar", diz o professor do Ibmec.
O anúncio do presidente George W. Bush de reduzir o déficit americano e de cortar despesas já teve efeito, segundo Máscolo. Na sexta-feira, o euro recuou para US$ 1,2871 e acumula queda de 5% desde 30 de dezembro.
"Até abril, porém, com a elevação dos juros domésticos, o real pode apreciar mais diante do dólar. Juros reais de 12,5% (diferença entre a taxa Selic e a projeção para o IPCA neste ano) são uma barbaridade", diz Máscolo.