Vendido a R$ 3,080, o dólar comercial atingiu no fechamento de ontem o seu menor valor desde 2 de setembro, praticamente um mês antes do primeiro turno da eleição presidencial, quando alguns apostavam que o então candidato José Serra (PSDB) conseguiria reverter a vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. Apenas ontem a moeda norte-americana recuou 2,62% com a simples expectativa de que possa cair ainda mais nos próximos dias. O raciocínio é elementar: antes de perder mais dinheiro, quem tem dólar procura vender a moeda e derruba ainda mais a cotação.
Entre os fatores que levam a um dos maiores recuos do câmbio desde a implantação do regime flutuante, os investidores estrangeiros citam perspectivas positivas para o Brasil no curto prazo, com a consequente entrada de recursos no país.
Há dúvidas, porém, sobre o impacto do fim da guerra na avaliação de risco brasileiro. A guerra trouxe uma completa realocação de recursos nos países emergentes, que beneficiou o Brasil. Após a guerra, porém, é possível que ocorra uma nova realocação desse dinheiro.
As variações do risco-país e do C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, são sinais disso. O risco está em 883 pontos-base, com pequena alta de 0,68%, e o título é negociado a 85,313% do seu valor de face, com elevação de 0,37%.
O discurso do governo Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias alimenta o otimismo. O ministro Antonio Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, participaram no final de semana de reunião entre representantes de todos os países que fazem parte do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Efeito manada
Além das boas notícias com relação à economia do país, o segundo fator que explica as grandes perdas do dólar hoje é o chamado ??efeito manada??. As empresas exportadoras se desesperaram diante da forte queda registrada pela moeda norte-americana no começo do dia e lideraram uma corrida para se livrarem dos dólares que têm em caixa, a fim de minimizarem seus prejuízos. Destacaram-se, vendendo dólares, a Petrobras e a Volkswagen.
Espera-se que entrem no país, nos próximos dias, os recursos captados por empresas nacionais no mercado externo. O Bradesco, por exemplo, conseguiu US$ 250 milhões e, quando trocar esse montante por reais, deverá contribuir para derrubar ainda mais a cotação da moeda norte-americana.
No contrapé, Bovespa crava terceira alta
A Bovespa fechou em alta pelo terceiro pregão consecutivo, ontem, animada pela queda do dólar comercial. O principal índice do mercado paulista voltou a encerrar acima do patamar de 12.000 pontos, o que não ocorria desde o último dia 7.
O volume financeiro alcançou R$ 716,552 milhões, acima do giro de anteontem (R$ 489,352 milhões), mas abaixo da média diária do mês (R$ 779 milhões).
A Bolsa paulista operou com tranquilidade, colada também no mercado americano, que teve um dia de ganhos modestos. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subiu 0,61%, enquanto a Bolsa eletrônica Nasdaq valorizou 0,43%.
O destaque negativo foi a queda de 4,1% na ação preferencial da Embratel, exportadora de jatos comerciais. A queda do dólar prejudica suas receitas na hora de serem convertidas para reais. O papel ON teve a quarta maior baixa, de 1,5%.