O dólar recuou hoje (4) pela quarta vez consecutiva, fechando em baixa de 1,67%, cotado a R$ 3,54, o nível mais baixo desde 20 de setembro. O cenário político mais tranqüilo e o bom desempenho das bolsas internacionais animaram bancos e exportadores a vender a moeda pela manhã, levando as cotações a atingir a mínima de R$ 3,515. Além disso, também houve alguma entrada de dólares para especular com a diferença entre os juros externos e internos.
Quando atingiu um nível próximo de R$ 3,50, algumas instituições foram às compras e o dólar desacelerou o ritmo de queda, num movimento também influenciado pela realização de lucros ocorrida à tarde na Bolsa e no mercado de títulos da dívida. O C-Bond, que chegou a bater em 61,50% do valor de face, em alta de 3,04%, inverteu a mão, encerrando o dia em baixa de 1,68%, cotado a 58 688% do valor de face. O risco país, calculado com base numa cesta de papéis da dívida, subiu 1,59%, para 1.723 pontos.
Segundo analistas, o dólar seguiu hoje o processo de ajuste a um cenário marcado por uma expectativa mais favorável em relação ao governo do PT. Mesmo depois da série de quatro quedas seguidas, a moeda ainda acumula valorização de 52,85% no ano. Para o gerente de câmbio da corretora Liquidez, o movimento do dólar indica que ?o mercado está dando um crédito ao PT?, cujo discurso de compromisso com a austeridade fiscal e inflação controlada agrada aos investidores.
O diretor-executivo de Tesouraria do Banco Fator, Sérgio Machado, notou a atuação dos exportadores no mercado, o que contribuiu para a queda das cotações pela manhã. Ele disse também que algumas instituições estão trazendo dinheiro para aplicar nos contratos de cupom cambial, que refletem o juro em dólar, para aproveitar as taxas elevadas. Hoje, o cupom cambial para janeiro de 2003, o mais negociado, recuou de 36,6% para 35% ao ano. O operador de um banco estrangeiro disse que até mesmo algumas empresas que haviam remetido dinheiro para fora do País começam a trazê-lo para aproveitar essas taxas.
O movimento de queda do dólar se interrompeu, no entanto, quando a moeda atingiu um nível próximo a R$ 3,50. Alguns bancos decidiram comprar a moeda nesse preço, por considerá-lo atraente. Para Machado, essa cotação não deve ser rompida com tanta facilidade, por se tratar de um suporte importante. Ele entende que, para que isso ocorra, é preciso que o PT confirme na prática o discurso pragmático que tem sido adotado nas últimas semanas. A atuação do partido na renegociação do Orçamento para 2003, por exemplo, será um dos testes para o PT, afirmou Machado.
A realização de lucros que tomou conta da Bolsa e do mercado de títulos da dívida também acabou estimulando algumas instituições a comprar dólares perto do encerramento dos negócios. Alguns analistas disseram que as ações e os papéis da dívida passaram a operar em baixa por causa das declarações do senador eleito Aloizio Mercadante (PT), afirmando ser contra a oferta pública de ações do Banco do Brasil no momento.
Para o diretor do Multicommercial Bank, Ricardo Simone, no entanto, o mercado passou apenas por um movimento normal de realização de lucros. Ele lembrou que o C-Bond pulara, desde meados de outubro, de 49% para 60% do valor de face, e era esperado que os investidores vendessem os papéis para embolsar os ganhos recentes. ?Foi um processo natural de ajuste dos preços. O humor dos investidores em relação ao Brasil não mudou.?