São Paulo (AG) – A relativa trégua nos mercados financeiros não durou quase nada. O dólar comercial bateu novo recorde ontem, ao fechar na máxima do dia, cotado a R$ 2,709 na compra e R$ 2,712 na venda. É a maior cotação do ano e também a maior desde 30 de outubro do ano passado. Somente em junho, a valorização do dólar frente ao real é de 7,87%. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou de perto o estresse que tomou conta dos mercados de câmbio e juros e se manteve em forte queda. O pregão viva-voz terminou em queda de 3%, com o Índice Bovespa em 12.220 pontos. O volume financeiro era de R$ 589,6 milhões.

O fluxo cambial negativo, o resultado negativo de um leilão de títulos e rumores sobre um possível rebaixamento da classificação de risco do Brasil foram alguns dos ingredientes de uma terça-feira de nervosismo. Para agravar o quadro, o IGP-DI de maio ficou em 1,11% e frustrou os que vinham apostando em um corte da taxa Selic na próxima reunião do Copom, na semana que vem. A pressão de compra começou logo na abertura dos negócios, quando o risco-país ainda tinha forte queda e os títulos da dívida externa operavam em alta.

Segundo operadores, empresas que têm dívidas externas vencendo neste mês estão optando por honrar esses compromissos, em vez de pagar os juros altos dos financiamentos. Isso porque as recentes altas do risco-país encareceram o crédito às empresas brasileiras. Cerca de US$ 2 bilhões em dívidas externas privadas vencem em junho. À tarde, o Banco Central divulgou o resultado do leilão de Letras do Tesouro Nacional (LTNs) com vencimento em 2 de outubro. Dos 2 milhões de títulos ofertados, apenas 1,867 milhão foram vendidas, e com taxas acima das previsões. A remuneração máxima dos títulos foi de 19,07% ao ano, contra um consenso abaixo dos 19% anuais.

Esse resultado trouxe maior nervosismo ao mercado e acabou gerando a inversão da tendência do risco-país, que pela manhã chegou a cair 3,5%. Às 16h30m, o risco medido pelo banco JP Morgan estava em 1.206 pontos-base, com alta de 5,42%. “O mercado sofreu um estresse por diversos fatores. Além do fluxo negativo, o resultado do leilão deixou os investidores bastante receosos. Isso porque o BC ofertou títulos curtos, com vencimento neste ano, e mesmo assim não conseguiu fazer a colocação integral”, disse Hermann Miranda, diretor de câmbio da corretora Liquidez.

O mercado de juros também sentiu fortemente o estresse do dólar, principalmente depois do resultado do IGP-DI. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2003, o mais negociado, projetou no último negócio taxa anual de 20,45%, contra 19,20% do fechamento de anteontem. O dólar paralelo negociado em São Paulo fechou ontem em alta de 0,73%, cotado a R$ 2,70 na compra e R$ 2,74 na venda. No Rio, o `black’ ficou estável, a R$ 2,62 na compra e R$ 2,68 na venda. O dólar turismo de São Paulo subiu 0,37%, a R$ 2,62 e R$ 2,71 na compra e venda, respectivamente.

Enquanto o mercado balança forte, o presidente da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), Raymundo Magliano, foi ontem a Brasília para anunciar que a instituição pretende popularizar suas atividades para atrair pequenos investidores. Durante a abertura de um estande no Senado Federal, que conta com um telão, pelo qual parlamentares e visitantes poderão acompanhar em tempo real os índices do Pregão, Magliano agradeceu aos congressistas pela isenção da cobrança do imposto da CPMF nos investimentos da Bovespa.

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