economia

Dólar atinge R$ 4,14 e já afeta preços de alimentos

O dólar voltou a subir na terça-feira, 28, sob influência das incertezas da corrida eleitoral, e atingiu a cotação de R$ 4,14 – o segundo maior valor nominal desde o início do Plano Real, em 1994. A moeda americana, que está na casa dos R$ 4 desde 21 de agosto, registra alta de 10,2% só neste mês e de 25% no ano. O novo patamar do câmbio já pressiona preços de produtos importados, especialmente combustíveis, medicamentos e de alguns alimentos.

Este mês, o valor da gasolina acumula alta de quase 6% e reflete tanto o aumento do petróleo no mercado internacional quanto a disparada do dólar ante o real, parâmetros que a Petrobrás usa em sua política de formação de preços.

Entre os alimentos, pães e massas subiram 3% no mês passado. Como o Brasil vai importar neste ano mais da metade do trigo que vai consumir, sobretudo da Argentina, esse grupo deve pesar no bolso do consumidor.

“A indústria tem, em média, estoque suficiente para até 90 dias. Se o fabricante tem estoque comprado com preço anterior, mais baixo, segura o reajuste e ganha em volume de vendas”, diz Claudio Zanão, da Abimapi, associação dos fabricantes de biscoitos, massas e pães industrializados. Ele estima que os preços devem ficar até 10% mais altos para o consumidor até o fim deste ano.

Para não perder competitividade e de olho em um consumidor resistente a gastos extras, a indústria e o comércio acabam tendo de absorver parte desse impacto do câmbio nos preços.

A gaúcha Chania Chagas, sócia da importadora Empório do Azeite, em Gramado, tentou segurar os preços ao máximo. O estoque de parte dos produtos que a empresa comprou direto do exterior deve durar até o fim do ano, o que vai garantir que ela não tenha de reajustar.

“Mas a gente tomou um susto este mês. As distribuidoras que nos fornecem os demais produtos aumentaram o valor em até 25%, por conta da alta do dólar. Decidimos repassar 15% para o cliente final, para não espantar o consumidor, e vamos ter de absorver parte dos custos.”

O gerente-geral dos supermercados Hirota, Hélio Freddi Filho, diz que a rede paulista ainda não precisou subir preços de importados, mas poderá fazer isso em breve. “Estamos com estoque comprado antes das altas do dólar, por isso mantivemos. Mas em 45 dias novos carregamentos devem chegar com os preços mais altos.” Ele conta que a empresa deve tentar diminuir o impacto no repasse ao consumidor negociando mais fortemente com os fornecedores.

Para economistas, no entanto, o impacto do dólar nos preços ainda não deve ser suficiente para tirar a inflação da meta de 4,5% estabelecida para este ano porque a demanda do consumidor continua baixa. “Claro que o cenário eleitoral obscuro tem um peso grande, mas é difícil pensar que a inflação rompa o teto da meta em 2018. A depender do resultado da eleição, porém, isso pode ocorrer nos próximos anos”, diz o economista da Tendências Consultoria Marcio Milan. Em 12 meses até julho, o IPCA acumula alta de 4,48%

Para o ano que vem, o Itaú Unibanco estima que um dólar acima de R$ 4,50 seria suficiente para ultrapassar o teto da meta de inflação, que é de 4,25%.

O Banco Central anunciou que vai vender US$ 2,15 bilhões na sexta-feira com compromisso de recompra, para rolar contratos de dólares que vencem em setembro. Com essas operações, chamadas de leilões de linha, o BC atua no mercado para impedir que a oferta de dólares caia e pressione mais o câmbio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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