O dólar desvalorizado está ameaçando a indústria brasileira de revestimento cerâmico, especialmente as fábricas localizadas no Sul do País. É que apesar de a produção ser maior no estado de São Paulo, é a região Sul que responde por 65% das exportações do setor. Só a Incepa, com fábricas em Campo Largo e São Mateus do Sul, exporta 40% de sua produção. De acordo com o diretor-superintendente da Associação Sul Brasileira da Indústria de Cerâmica para Revestimento (Asulcer), Luciano Rossi Pinheiro, caso o dólar permaneça nos patamares atuais nos próximos dois a três meses, o crescimento do faturamento do setor este ano pode ficar comprometido.
?O setor espera que realmente haja uma recomposição do dólar; não deve ficar muito mais tempo nesses valores. Mas na contramão existe a elevação da taxa de juros a cada reunião do Copom. Não é assim que se desenvolve o País?, disse, em tom de crítica. Segundo Pinheiro, as empresas do ramo estão mantendo os contratos de exportação – firmados a longo prazo – para garantir os clientes. ?Temos que manter o abastecimento do mercado externo. Concorremos com a cerâmica italiana, espanhola e da própria China. Se deixamos de entregar, corremos o risco de o cliente comprar de outro?, explicou. De acordo com ele, as fábricas de cerâmicas continuam vendendo, independentemente do câmbio. ?Só não despendemos esforços em aumentar as vendas?, disse.
Incepa
Durante o lançamento do programa ExportaCidade em Campo Largo, no mês passado, o diretor presidente da Incepa, Jorge Francino, também criticou a desvalorização do dólar. A empresa exporta 40% da sua produção, que foi de 17 milhões de metros quadrados no ano passado. Em valores, dos R$ 225 milhões do faturamento bruto, R$ 78 milhões vieram da venda ao mercado externo – especialmente dos Estados Unidos, que respondem por 65% do mercado.
Em nível nacional, também os Estados Unidos são os grandes compradores: do total de 125 milhões de metros quadrados que foram exportados no ano passado pelo Brasil, 46 milhões foram para os EUA, seguido pela África, com 7 milhões.
Além do câmbio, outra questão que preocupa o setor de revestimentos cerâmicos, segundo Luciano Pinheiro, da Asulcer, é o gás natural. ?Estamos apreensivos com a instabilidade na Bolívia. Quase a totalidade de gás natural que utilizamos vem daquele país,? comentou.
Produção
No ano passado, o Brasil produziu 565,6 milhões de metros quadrados de revestimento cerâmico – 334 milhões no estado de São Paulo e 166,3 milhões na região Sul – especialmente Santa Catarina, onde estão instaladas as gigantes Eliane, Portobello, Portinari, entre outras. Das vendas totais, R$ 3,556 bilhões foram feitas para o mercado interno e R$ 1,001 bilhão (US$ 342,32 milhões) para o mercado externo – o que representou 21,97% do total. Desse montante, a região Sul respondeu por 65% – ou US$ 221,12 milhões.
Para 2005, a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento (Anfacer) projeta uma expansão de 22% no faturamento com as exportações e 12,5% em volume (metros quadrados). Por enquanto, a entidade ainda não reviu a projeção para este ano, apesar do dólar em queda.