Doença em frangos no Brasil seria devastadora

Campinas (AE) – O eventual surgimento da gripe do frango (influenza aviária) praticamente tiraria o Brasil do mercado externo, afirmou ontem Paulo César Martins, gerente para a América Latina da Hybro, uma das maiores empresas de engenharia genética da Holanda. O País tem 33% de participação nas exportações mundiais, mais que o dobro dos 15% de 5 anos atrás. E o crescimento vem se sustentando: em 2003, o setor exportou R$ 1,8 bilhão, cifra 29,2% maior que a do ano anterior.

Martins lembrou que o Produto Interno Bruto (PIB) avícola é de 1,2% do total das riquezas produzidas pelo País. “Embora pareça pouco representativo, não é”, afirmou, depois de comparar a participação com o PIB da indústria automotiva, que é de 3,9%. “É altamente significativo”, disse, para cerca de 400 empresários e técnicos que participaram ontem do II Workshop sobre Influenza Aviária, em Campinas.

Martins informou que o setor é responsável por 2,3% de toda a mão-de-obra ativa no País. “Por isso, evitar a entrada desta doença não é tarefa apenas do Ministério da Agricultura, mas de todos os envolvidos direta e indiretamente neste setor”, afirmou. O executivo disse que, nos últimos 3 meses, 11 países já identificaram a influenza aviária em seu plantel. “Não há como fugir de surtos de influenza aviária, doença que tem vida longa”, alertou.

Cenários

A União Brasileira de Avicultura (UBA) trabalha com um cenário otimista e um pessimista, no caso de a influenza aviária chegar ao País. Segundo o vice-presidente técnico-científico da UBA, Ariel Antônio Mendes, o cenário otimista considera a identificação imediata do foco da doença. Nesse caso, a retomada das exportações demoraria de 6 a 8 meses. No cenário pessimista, Mendes disse que a saída para uma demora no diagnóstico da doença seria a erradicação em massa do plantel.

“Não podemos pensar em vacinação, até porque as nossas exportações seriam canceladas, com a perda de nosso mercado”, explicou. Segundo Mendes, a produção de uma vacina demora hoje de 3 a 4 meses. Pior: no Brasil, não existe nenhum laboratório que possa produzir vacina nesse período, no qual a doença se espalharia. “As conseqüências seriam trágicas para a avicultura brasileira”, afirmou.

O técnico da UBA lamentou que, desde o surgimento no Chile, em 2002, o setor venha convivendo com o fantasma da influenza aviária. Martins endossou a proposta da UBA, de implementação de zonas ou regiões para controlar a doença. Essa foi a mesma estratégia utilizada pela Holanda no ano passado. “Mas temos de criar essas zonas no Brasil neste momento de paz, e não quando começa a guerra”, afirmou. “Não adianta esperar que isso ocorra.” Segundo ele, em 2003 a Holanda gastou 500 milhões de euros para erradicar a influenza aviária.

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