O custo médio do estoque da Dívida Pública Federal (DPF) tem ficado abaixo do referencial básico, que é a taxa Selic, afirmou nesta segunda-feira, 28, o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Leandro Secunho. “Uma vez que está havendo queda das taxas de juros e da inflação, o nosso custo de estoque tem ficado abaixo da Selic, isso é positivo”, disse.
Em 12 meses até julho, o custo médio da dívida caiu a 10,89%, contra 11,40% até junho. Essa redução também se reflete no custo médio das emissões, que ficou em 11,38% ao ano em julho, também abaixo do mês anterior. No caso das NTN-Bs, títulos públicos atrelados à inflação, esse custo foi ainda menor, de 8,89%.
Além da redução do custo da dívida, o Tesouro também identificou uma queda na parcela a vencer nos próximos 12 meses, o que indica um prazo mais longo do estoque. A fatia desses papéis atingiu 14,69% em julho, o menor patamar da série. Segundo Secunho, esse também é um dado positivo, mas está fora do intervalo previsto no Plano Anual de Financiamento (PAF), que é de 16% a 19% da dívida vencendo em 12 meses.
“Esse é mais um mês em que atingimos menor patamar na parcela vencendo em 12 meses. A composição ótima em torno de 20% é patamar bastante adequado. Temos margem para crescer indicador, mas o cenário é bastante positivo”, disse Secunho.
O coordenador-geral ressaltou que a tendência, dentro da estratégia já traçada pelo Tesouro Nacional, é que a fatia de vencimentos mais curtos da dívida volte a crescer nos próximos meses, encerrando o ano dentro do intervalo indicativo. Porém, Secunho ressaltou que o PÀF pode ser ajustado caso seja necessário.
“Se for necessário alterar intervalos do PAF, será feito. Mas seria no sentido de reduzir o objetivo da parcela da dívida vencendo em 12 meses”, afirmou.
Prefixados
A queda na inflação e nos juros suavizou a trajetória esperada pelo Tesouro Nacional para a dívida pública neste ano. Ao divulgar o PAF, no início do ano, o governo previa um crescimento na participação de títulos atrelados à Selic, em um momento em que o Tesouro decidiu correr um pouco mais de risco na gestão da dívida em busca de custos menores.
A previsão era que os investidores não estariam dispostos à compra de títulos prefixados em um momento de instabilidade política. Com a queda nos preços e na Selic, porém, os compradores “aceitaram” um volume maior do que o esperado de títulos prefixados, que têm no momento melhor rendimento.
Para o Tesouro, a participação maior de títulos com taxa predefinida dá maior previsibilidade à gestão da dívida. “O ano tem sido mais positivo do que era nossa expectativa. Temos conseguido fazer leilões de prefixados com volumes maiores do que era estratégia”, afirmou o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública.
Secunho disse que não foram necessárias revisões no PAF em 2017, que geralmente ocorrem em abril e agosto. A expectativa é que a participação dos prefixados encerre o ano próximo ao teto do intervalo do PAF, que vai de 32% a 36%, o que significaria uma estabilidade em relação a 2016, quando a fatia desses papéis era de 35,73%.
A expectativa do Tesouro é, nos próximos anos, retomar a trajetória de crescimento desses papéis e queda nos atrelados à taxa flutuante. “Vamos retomar a trajetória de aumentar prefixados ao longo do tempo”, completou.
Estrangeiros
Os estrangeiros rolaram apenas parcialmente os títulos de dívida interna que venceram no início de julho, afirmou Secunho. Esse foi um dos fatores que contribuíram para a redução da fatia de não residentes na Dívida Pública Federal (DPF) para 12,83% em julho. “Os estrangeiros vinham fazendo rolagem antecipada de sua dívida, mas ainda assim venceram na carteira desses investidores em torno de R$ 5 bilhões”, disse.
Em dezembro do ano passado, a participação de não residentes era de 14,33% na DPF, mas o coordenador-geral observou que a queda na taxa de juros abriu oportunidade para que esses detentores vendessem suas posições e realizassem lucros. “Houve realização, com saída de estrangeiros, mas foi uma saída organizada. Agora, taxas chegam a nível em que as oportunidades ficam menos proeminentes”, afirmou.
Secunho aponta, no entanto, que a redução na fatia de estrangeiros não é significativa em termos financeiros (eles continuam como o 4º maior detentor, com R$ 413,87 bilhões em títulos), e a tendência é de estabilidade na participação desses investidores na dívida na visão do Tesouro Nacional.
“Temos observado interesse de investidores estrangeiros em alongar suas posições. O que acontece é que outros detentores têm comprado num ritmo mais acelerado do que demais investidores”, justificou o coordenador-geral.
As instituições financeiras tiveram queda de participação de 22,97% para 22,30% na passagem de junho para julho, com uma redução nominal do estoque da dívida em suas mãos de R$ 23 bilhões. Segundo Secunho, houve um grande volume de LTNs (títulos prefixados) que venceram em 1º de julho, o que contribuiu para isso. Os bancos tinham R$ 40 bilhões desse papel.
Os fundos de investimento, por sua vez, cresceram na participação da dívida, de 23,59% em junho para 24,37% no mês passado.